quinta-feira, 28 de abril de 2011

3 notas sobre blogueiros e pregadores




Escrevi o último texto e me ocorreu, algum tempo depois, a lembrança de que pregadores também gostam de enumerações didáticas. A fim de não traçar generalidades, quando estiver falando sobre “pregadores” estou me referindo aos pregadores evangélicos, e não às outras categorias dos tais. Dito isto, quero tão somente montar esta nova (ou velha) analogia: blogagem é uma espécie de pregação e a recíproca é igualmente verdadeira. A seguir, menciono algumas das similaridades e  alguns dos senões entre blogueiros e pregadores, divididos em 3 notas curtas.

O blogueiro e o pregador:
1. Não são jornalistas, nem pretendem ser.
E graças por isso!… Dá para ser imparcial tanto na blogosfera quanto nos púlpitos, sem deixar de lado a responsabilidade com a [p]alavra (“P” maiúsculo e “p” minúsculo)
2. Querem atingir seu público-alvo.
O público alvo do blogueiro: aqueles que apreciam seu conteúdo. O do pregador: aqueles que já apreciam um conteúdo que não é diretamente seu (é do Espírito Santo) mas, principalmente, aqueles que não apreciam (os “gentios”, digamos assim). Neste aspecto, o pregador leva vantagem sobre nós. Atingir os não conhecedores da Palavra é um dos grandes imperativos deles.
3. Ganham boa reputação se pregarem o que vivem e viverem o que pregam.
Na maioria dos casos, isto gera satisafação e bom testemunho para ambos.
Mas há um outro senão aqui: o pregador não deveria vender a Palavra que prega (“De graça recebei, de graça dai…”), seja ela dura ou branda, pelo menos da maneira como alguns o fazem. Com isso não estou defendendo a idéia de que todo pregador faça voluntarismo puro e simples. Já o blogueiro pode “vender” a sua palavra (olha a letra “p”!). desde que “boa” (o que não quer dizer necessariamente que seja branda, mas que tenha alguma qualidade, geralmente oriunda de sua boa reputação).

Contudo, sobre esta última nota, ao final fica evidenciada uma regra básica, válida para as duas categorias de profissionais: eles não podem se vender.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Considerações sobre fidelização de leitores de blog



Eu não vou ensinar como fidelizar leitores aqui, pelo menos diretamente, mas até nestas primeiras linhas já estou aprendendo. Existe muito metablog de qualidade que ensina boas técnicas a respeito, poderia fornecer a referência de alguns, porém vou citar apenas este e este aqui. A solução para muitos blogueiros iniciantes que se embrenham na problemática da fidelização é dada com frequência em textos revistos, atualizados, revisados, pormenorizados e, principalmente, enumerados. 
Sobre essa última forma de texto, preciso dar minha opinião como leitor de blogs: é um dos grandes filões da pedagogia bloguística. Todo metablog que se preze tem que postar nesse formato, pois organiza as idéias na cabeça do leitor. Se este fosse um post para dar dicas de fidelização, certamente a primeira seria: "1 - escreva posts em forma de tutoriais enumerados". Esse tipo de didática está saturado em muitos outros tipos de comunicações (experimente atrair a atenção de um aluno do ensino médio com um texto do tipo: "6 dicas para entender análise sintática"), mas funciona muito bem em metablogagem. Isso se deve, em parte, ao bom momento por qual passa a web, com um crescente interesse por blogagem e ao mesmo tempo uma carência massiva de instrumentalização de muitos ingressantes.
Voltando à fidelização, me ocorre agora uma afirmação de Marcos Lemos: "Seu objetivo é não deixar que seu leitor esqueça de você". E outra do Gerenciando Blog: "Tudo o que você faz em seu blog precisa ter foco em seu 'cliente'". Concordo com as duas assertivas, embora talvez não pelo mesmo contexto em que foram enunciadas. Elas me levam a concluir que o escritor de blog é uma classe mesmo diferenciada, não escreve para a mesma demanda do escritor convencional. (Muito escritor normal pode se dar ao luxo de não ter essa preocupação). Deve ser também por isso que as academias de letras ainda resistem a nos aceitar como ocupantes de vagas abertas. 
Todo blogueiro precisa se preocupar com seu nicho, não tem jeito. Repito: eu não vejo essa preocupação em muitos autores (não blogueiros), com exceção dos que escrevem livros de auto-ajuda, consultorias especializadas, ou alguma obra integrante da franquia "Como Ganhar Dinheiro...". O "cliente" de um blog, ou seja, o seu leitor, via de regra é atraído pela postagem. Se ela não seguir uma mínima "coerência" com o que o blogueiro disse há pouco tempo atrás (mas não necessariamente o post anterior) isso pode ocasionar infidelidade. É como se o blogueiro vivesse para ganhar cada leitor. [Eis uma má comparação:] muito vendedor de feira livre faz a mesma coisa quando grita para anunciar sua mercadoria diante do volume de clientes transeuntes. Cada cliente ali pode lhe render o pão de cada dia, ou o quilo a mais de carne de primeira em sua despensa. Cada visitante de um blog não garante dividendos para o blogueiro, pelo menos tão imediatos quanto os do vendedor de feira livre, mas contribui para a construção paulatina do que podemos chamar de reputação. Reputação se constrói com um tempo bem maior do que o tempo necessário para desconstruí-la.
Por outro lado, ah se os escritores convencionais seguissem algumas das técnicas de blogagem antes de publicar seus livros de prosa, poesia, ou mesmo seus livros voltados para demais áreas do conhecimento! Será que Fernando Sabino, José Lins do Rego e Luiz Fernando Veríssimo se preocuparam em algum momento das suas carreiras em atingir seu público alvo? Ou será que quem se preocupa com público alvo são somente os "blogueiros engajados" e os autores de manuais do tipo que ensinam como passar em concursos? Manuel Bandeira seria Manuel Bandeira se tivesse lido um artigo como "Fidelize seu leitor de poesia usando técnicas de SEO (seja lá o qual fosse o correspondente de "SEO" de sua geração)? Paulo Coelho não poderia lançar um e-book chamado "Por que me tornei um best seller mundial: dicas para fidelizar o leitor de romances". Autores de livros de química, biologia, linguística, física e matemática poderiam publicar suas dicas de fidelização de leitores e assim escrever livros mais palatáveis, arrebanhando uma multidão de vestibulandos... Essas conjecturas iriam mais longe, mas bastam.
Encerrando minhas considerações, apenas reitero que blog é uma oportunidade de trabalho como outra qualquer, que vai demandar seu tempo, seu esforço, sua atenção para cada leitor e sua necessidade de estabelecer uma comunicação que gere algum retorno, seja monetário ou não. Quem vai me dizer que um diário pessoal em forma de blog é um formato ultrapassado de expressão, se o seu autor encontra motivação para trabalhar nele? A mesma pergunta eu faço para um blogueiro que vem se especializando em divulgar oportunidades de trabalho ou dicas de moda em seu blog. Ou seja, independente de seu tipo de conteúdo, pergunte-se sempre: existe alguma motivação para que meu blog não passe de uma "febre de momento"? Além de alguma motivação, existem leitores acessando? Se a resposta de ambas as perguntas for negativa, desista de tentar isso no formato de blog, mas tente em outro, por exemplo, em uma rede social.


Contudo, ninguém pode ser hipócrita ao ponto de negar que quando seu blog passa de um hobby ou "febre" a algo mais sério e rentável, embora venha tomando mais o seu tempo, é justamente aí que a sua verdadeira motivação aparece. Isso não é um desestímulo que intenta fazer com que muitos blogueiros iniciantes encerrem seu projeto. Muito pelo contrário: é uma constatação que vai animá-los, porque é fruto da experiência da maioria.