quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Pra não dizer que não falei de família

(Não serve como versão para a canção do Geraldo Vandré)
Caminhando e criando os filhos de então
Somos todos iguais, se parentes ou não
Na fartura, carência, pedidos e negativas
Aprendendo e ensinando
Às vezes esquecendo a lição
Vem família agora
Que esperar por um agir
Não vai poder acontecer
Quem sabe passa a hora
Só a morte  pra dizer
Vem família agora
Se o tempo for dizer
Uma mão contida agora
Passa a ser coisa normal
Há pessoas armadas
Parentes ou não
Nós estamos na escola
Estudando o amanhã
Mas esquecer que o hoje pede união
Não faz bem para a alma
E nem pro coração
Vem família agora
Que esperar por um agir
Não vai poder acontecer
Quem sabe passa a hora
Só a morte  pra dizer

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Angústia digital

Não vale à pena ser produtivo em postagens, se as pessoas não curtirem. Os “likes” do Facebook parecem ter mais a dizer do que já dizem. Uma mulher “novinha” arrasta mais seguidores do que um qualquer imbuído de boas intenções intelectuais. Um senhor de meia idade passa sem ser notado pela multidão. Estamos vivendo a crise do ser visto digitalmente?
Cria-se em alguns a necessidade de se tornarem cronistas de suas próprias vidas pessoais: a cadela mirim precisa ser fotografada o máximo de vezes possível, para revelar uma felicidade ao lado dos animais. A jovem que ingressa numa faculdade privada de nutrição (por que agora todo mundo resolveu cursar nutrição na face da terra?) sente tamanha necessidade de mostrar para os outros suas fotos ao lado de uma turma feminina toda feliz. O pau de selfie coletivo é um serviço de utilidade pública para quem? As pessoas querem nos fazer acreditar que a felicidade posada no Facebook é felicidade. Será? Então, se nada do que se fez no final de semana for postado (do passeio no rio Carinhanha/São Francisco à ida a Cabuçu/Bom Jesus dos Pobres, valerá alguma coisa?
Em um tempo em que vale mais o que está fotografado, o registro escrito fica aparecendo como somente acessório. As palavras perdem a força envolvidas muitas vezes na besteirada cotidiana de todas as postagens. Uma mulher postando os seios ou a bunda terá repercussão instantânea. Um filósofo postando um ensaio terá repercussão nos redutos. Há um gueto digital para determinado aspecto cultural e um motor de multiplicar seguidores para outras modalidades culturais, consideradas pelo povo digital como “populares”.
Os grupos de whatsapp sentem cada vez mais a necessidade de multiplicar o esdrúxulo, o meme mais recente que expõe a presidente da república ao ridículo, o áudio do peido mais engraçado, a literatura que se consegue ler em poucas palavras. Linchar socialmente o Lula (que foi eleito como o nosso último demônio político) ou o Marco Feliciano (que deveria escolher de vez se quer o púlpito ou o congresso) virou uma prática da mais pura expressão da opinião.
Consegue-se mobilizar uma multidão pelas redes sociais, a fim de ir às ruas protestar contra o governo do PT e os males do Brasil. Acho que isso é um dos melhores ganhos dessa tecnologia. A ressonância das lutas sociais tem seu lado maravilhoso. Fico torcendo para que essa artéria revolucionária do povo digital cada vez mais cresça e faça com que os serviços públicos essenciais sejam tornados de excelência. Fico torcendo para que essa artéria esteja associada a um coração verdadeiramente social.
A minha oração agora é para que eu encare esses novos produtos sociais com um preconceito bastante pacífico. Que eu não me amgustie quando postar uma coisa que merecesse ser valorizada pela massa, mas que não foi. Sim. Porque está me parecendo que as pessoas só estão buscando ser notadas, a qualquer custo possível.
O jejum do século 21 deverá mudar: as pessoas serão convocadas cada vez mais a se abster da vida digital, por pelo menos horas ou dias, a fim de que se desangustiem um pouco e percebam que existe a vida fora do smartphone.