"Uma frase que escutara por acaso, na rua, trouxe-me nova esperança de romper em definitivo com a vida. Ouvira de um homem triste que ser funcionário público era suicidar-se aos poucos.
Não me encontrava em condições de determinar qual a forma de suicídio que melhor me convinha: se lenta ou rápida. Por isso empreguei-me numa Secretaria de Estado".
Não me encontrava em condições de determinar qual a forma de suicídio que melhor me convinha: se lenta ou rápida. Por isso empreguei-me numa Secretaria de Estado".
O ex-mágico da taberna minhota, Murilo Rubião
Outro dia, ouvi de um colega que certos funcionários públicos são como "ninguém". Depois me lembrei do conto de Murilo Rubião, que conta as agruras de um homem, que antes de ser funcionário de uma "Secretaria de Estado", era mágico, mas teve os seus poderes aniquilados justamente por se tornar funcionário público, com aquela rotina, burocracia, tempo ocioso forçado, etc... O colega justificava sua opinião citando o casos dos servidores públicos que trabalham como técnicos em instituições de ensino superior. Segundo ele, ali existe uma hierarquia patente que divide categorias em "visíveis" e "invisíveis".
Claro que combati essa tese absurda, por não encontrar sentido nela, mas sim uma ponta de, no mínimo, ressentimento ou, quem sabe, despeito e amargura relacionado a algo ou a alguém. Disse que dependia de cada um se sentir ou não um ninguém sendo funcionário público. Quem acha que por ter um doutoradozinho pode ser alguém está tão enganado quanto quem só tem nível técnico e se ache um ninguém. Ambos devem sempre primar pela coisa pública e pronto.
Engraçado que ele não estava falando da mesma coisa de que Murilo falava (tédio, desencanto, rotina massacrante, perca da criatividade, etc), mas de algo inerente à sua vaidade, uma vez que tem dois cargos em "Secretaria de Estado", sendo que em um se sentia "alguém" e, no outro, um "ninguém". Adivinha em qual cargo ele sentia "alguém"? Respondo: professor da rede estadual! Oxalá que em algum dia nesta terra um professor da rede pública se sinta alguém na vida, porque a maioria deles não se sente assim - e não estou falando apenas das angústias salariais da classe. Afinal, é possível se sentir alguém trabalhando em jornadas pesadas, invariavelmente levando trabalho para casa, ministrando aulas para alunos que não querem nada com a voz do Brasil, sem falar em outros males?
Mas este post não iria tratar da situação educacional do Brasil, muito menos das condições de vida do funcionalismo público. A minha idéia seria falar sobre avanços na área tecnológica que vêm contribuindo consideravelmente para que a burocracia seja relativamente abrandada no serviço público. Não sei se tenho mais estímulo para discorrer sobre essa questão a essa altura, mas...
A comunicação instantânea proporcionada pelo avanço da Web está fazendo muita gente repensar o conceito de morosidade nas repartições. Mas hoje não estão em voga apenas esses avanços gerais, como o amplo uso dos comunicadores instantâneos ou telefonia via IP, ou das redes sociais. Desenvolvedores engajados estão trabalhando na criação de verdadeiras plataformas em código aberto muito positivas no que se refere à modernização e ao aperfeiçoamento da máquina administrativa. Parte significativa dessa mentalidade pode ser sentida no que o Portal do Software Público tem já disponibilizado para implantação nas mais diversas esferas do serviço público.
Comecei o post com um assunto, reconheço, estou concluindo de outra forma. Não sei qual escritor, piadista ou filósofo inventou essa falsa "ideologia" de que ser funcionário público é suicidar-se aos poucos. Isso só pode ser mesmo de um literal realismo fantástico, sem menosprezo algum pela pena de Murilo, que fez história na Literatura Brasileira. Também não sei de onde esse colega tirou sua opinião estapafúrdia, pouco me interessa saber. Tanto um quanto o outro para mim estão com idéias errôneas sobre essa categoria. O fato é que o funcionalismo público talvez seja um dos setores da atividade nacional que mais tenham a ganhar em agilidade à medida que passe a incorporar com consciencia as boas iniciativas tecnológicas que, principalmente nos últimos anos desta década, vêm ganhando corpo.
O Brasil agradece. Os servidores públicos, nem se fala.