quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Blogar para os outros

No final de agosto (31) do ano passado, comemorou-se o BlogDay, mas não iremos  recomendar aqui cinco bons blogs para ninguém, pelo menos neste momento. Deixemos essa tarefa para os leitores de blogs, em especial para os leitores de bons blogs. Como se aproxima o próximo BlogDay, limitarei-me a traçar aqui algumas considerações sobre a própria tarefa de blogar em projetos paralelos.

O que inicialmente chamei de "tarefa de blogar em projetos paralelos" pode ser claramente definida como sendo o exercício laborativo de todo aquele que produz conteúdo para outros blogs, além do seu próprio. Em outras palavras, estamos tratando do que diz respeito a todos aqueles que encaram o negócio de blogar como uma atividade profissional. Por princípio, esses profissionais devem reconhecer que estamos em uma fase ainda não tão "confortável" e poderíamos encontrar diversos fatores para explicar isso, desde os mais simples (concorrência, falta de foco), quanto os mais complexos (falta de investimento, despreparo técnico, indisciplina na produção, etc).

O presente artigo é apenas uma pequena reflexão sobre uma percepção pessoal: muitos blogueiros não se sentem estimulados a trabalhar no blog dos outros. Afinal, "por que muitos não gostam de escrever no blog dos outros?"

Porque:

1º - Escrever no blog dos outros não é atrativo para muitos, porque não há retorno.

Isto é verdade, na maioria dos casos. O que você ganha com esses guests posts é algo muito bonito, do ponto de vista da sua reputação e, no longo prazo, isso pode lhe render alguma conversão. Mas ninguém vive de guest post, por menos romântica que seja a sua visão de colaboratividade na web. Todo mundo tem uma fatura no final do mês! No entanto, se o blogueiro optar por se engajar no negócio de blogar para terceiros, que o faça por opção pessoal, e não vislumbrando um modo tranquilo de ganhar dinheiro. Por falar nisso, esqueça essa utopia de se ganhar dinheiro de modo tranquilo na blogosfera.

2º Escrever no blog dos outros não é atrativo para muitos, mesmo com liberação de códigos do Adsense ou de outros programas do tipo.

Mesmo para propostas bacanas de colaboratividade em blogs com permissão de inclusão de publicidade própria, o ganho nem sempre é garantido. Aqui, mais uma vez, o que realmente motiva o blogueiro é a capacidade real de crescimento dele próprio, enquanto produtor de conteúdo para determinados nichos. Então, vista como oportunidade profissional, vale a pena a colaboração em propostas desse tipo, até porque as promessas de ganhos vão depender de duas diretrizes essenciais: sua constância em produzir material novo e a capacidade do blog hospedeiro de atrair leitores, tráfego, acessos, ser buscado, citado, divulgado, etc. Geralmente, essa modalidade de negócio dá resultados ($), ou seja, seus códigos publicitários recebem a conversão necessária, ainda que aos poucos. De qualquer forma, é de grão em grão que Deus também abençoa os blogueiros honestos! O que não deve acontecer, pelo menos nos longos primeiros anos, é o blogueiro considerar isso como um vencimento mensal, porque não é. É mais uma renda que vem a qualquer momento, fora do seu orçamento fixo.

3º Escrever no blog dos outros não é atrativo para muitos, mesmo com pagamentos reais por "peças textuais" elaboradas.

Um dia chamei dois blogueiros para um negócio do tipo "escreva-e-ganhe-por-texto". Eles disseram que iam pensar. Resultado: nunca mais me responderam. E conjecturo o porquê:
a- Eles perceberam que na blogosfera de conteúdo pago se batalha bastante e os ganhos não correspondem ao que se pensava advir de uma atividade que talvez tivesse algum status de "nobre" (a atividade de escrever?) e
b - Eles perceberam que, no Brasil, quando não se é um Veríssimo (ou um João Ubaldo Ribeiro ou mesmo uma Maria Betânia), nessa coisa de ser bem pago por uma publicação, o negócio é mais embaixo...
Depois de tudo isso, vale ainda a pena eu blogar em projetos paralelos? É crescimento ou é desestímulo profissional, como pergunta o título?
Respondo: é crescimento! Claro que sim. Se você for convidado a trabalhar no projeto dos outros, vá. Não estou aqui para desanimar ninguém, até porque como já ficou bastante enfatizado, crescemos profissionalmente com isso. Só recuse se não tiver tempo para cumprir o mínimo necessário ou exigido de você.

Artigo publicado originalmente no blog Oportunidade Profissional, em 1º de setembro de 2011. Foi editado aqui, em parte.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A pior raça de crentes

Antes de decidir escrever este post, eu tive um sonho profético, que talvez tenha me feito ponderar muito do que ia dizer e acredito que cortei várias linhas de pensamento. Mas de antemão, é bom que fique claro que não estou me referindo a ninguém em particular, nem a denominação alguma, nem a crença religiosa alguma, nem a episódio específico algum de qualquer pessoa. Tudo o que vai é apenas uma visão pessoal e eu não estou pedindo para ninguém aceitar como verdade, mentira ou conspiração, tanto é que aceito todas as críticas que vierem. Agora, quem quiser se espelhar que se espelhe, porque eu já me espelhei mesmo antes de escrever.

Não precisa entender de sociologia evangélica para saber que o instinto de inadimplência ainda impera em uma pequena parcela do povo "crente" (me desculpe, mas eu não vou usar a expressão "povo cristão" nesse caso). Meu pai, como um bom camelô de porta em porta que foi, sempre insinuava para a gente que ter cliente crente era problema na certa (só que dizia isso por palavrões piores que não convém a mim repetir). Mas Deus é justo e a grande maioria de nós é boa pagadora.
É evidente que existe um discurso que diz ser o "crente veaco uma das piores raças de crentes que podem existir" e que isso de certa forma contribui muito para manchar a reputação boa da grande maioria da gente que sem dúvida é "boa paga". Tudo isso fica ainda pior no mundo ciber-globalizado onde vivemos, onde tudo é computado e cada registro de sua vida muitas vezes é até declarado em "praça pública" virtual.

Não estou escrevendo para me defender de coisa alguma, pois ninguém precisaria se aprofundar muito para descobrir que também devo na praça, ou seja, contraio dívidas como todo brasileiro normal - afinal, só não se endivida com alguma coisa quem é espectro de homem, quem só passou pela vida, não viveu (peço desculpa pela paráfrase infeliz). Seria muito bacana ouvir aqui um discurso doutrinador modelo de moralidade, tipo esses muitos que são pregados todos os dias, mas infelizmente este não é o lugar, nem agora é o momento.

Acredito que existem duas espécies de crentes que devem: uma é o crente veaco e outra é o crente devedor. Basicamente, eles se diferenciam nos seguintes termos:

O crente veaco adquire, por suas atitudes financeiras duvidosas, uma reputação que faz "sucesso" no seu meio, mas às vezes pensa que ninguém sabe quem ele é. Os seus irmãos em Cristo podem até tratá-lo de maneira ordeira e amigável como devem mesmo tratar, mas ele não imagina o que deve ser comentado nos bastidores...

Ou seja, o rastro que o crente veaco deixa na vida dos credores frustrados que vai arrebanhando na existência é inapagável. O crente devedor, não. Ele pode até encenar um princípio de má reputação, mas pode retirar o mal pela raiz, quando vai ao credor prestar satisfações verdadeiras do seu atual estado financeiro.

O crente veaco compra até sabendo que não pode pagar, simulando muitas vezes uma atitude de "fé", e chegando a dizer que vai comprar aquilo "pela fé". Depois do estrago feito, começa a rotina infeliz da síndrome do devedor fujão: fugir, fugir, se esconder, se esconder, deixar o telefone tocar, tocar, mandar avisar que já saiu...

Por outro lado, o crente devedor não se esconde do credor, não está podendo pagar tudo, negocia a dívida, faz um acordo, explica os motivos reais que o levaram a falhar. Ou seja, entende que não respeitar o básico das leis dos homens é também pecar. 

No universo da fé pentecostal, por vezes o crente veaco até critica o tal crente "sorveteriano", aquele que vive fora das listas do SPC/SERASA e está vivendo conforme os preceitos bíblicos de um cristão (não digo nem os de religioso), mas que não demostra na vida - e no corpo até - as marcas do "poder de Deus".

Pois bem: se é para ter/manifestar o "poder de Deus" trapaceando com o próximo (às vezes intencionalmente, mas nem sempre, claro, não estou generalizando), é prefirível que Deus use o crente para ser o "crente comportado" de sempre, porém humilde e submisso ao Seu chamado.

O crente veaco compra e não paga, mas acha que talvez o tempo passe uma borracha no passado. Já o crente devedor lembra de tudo, e pode ser que algumas dessas "lembranças" não se apaguem tão cedo.

Por exemplo: me lembro até hoje que deixei uns débitos pequenos por uma cidade onde morei por alguns meses, paguei parte deles através de uma família conhecida que vinha sempre a Feira, mas lembro que ainda fiquei devendo algum resíduo, que o tempo pode ter minado de algum caderno, mas preservou na minha memória culpabilística e uma hora ou outra a coisa vai ser regurgitada, talvez antes do dia do livro do Juízo Final. Aproveitando: a cidade é Pintadas e fica na Bahia, e se alguém de lá conhecer a dona da loja Crislu me avise que eu preciso contactá-la e renegociar esse débito. Eu devia era ter vergonha de dizer isso para quem quiser ler em público, mas eu acho que o crente devedor deve sempre ser um sem vergonha nesse sentido... 

A questão não é demonizar o crente veaco e colocar o crente devedor em um pedestal. A questão é tomarmos consciência de que nossas falhas podem ser sanadas e paulatinamente ir agindo, mesmo devagar, mas sempre. 


O restante que seria escrito, no sonho (lembra?), Deus tratou de silenciar. Não iria acrescentar mais nada.