sábado, 29 de agosto de 2009
Internet de quantidade
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Bíblia Digital
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Diários
”Roteiros. Roteiros. Roteiros” (Oswald de Andrade).
Por sete anos escrevi diários. Tinha até uma marca “registrada” em cada caderno: “O diário esparso”. Devo ter tirado esse nome de alguma publicação literária lida. Como todo o resto da humanidade que se interessa por isso, a proposta era descrever a maioria dos momentos da vida, desde que os considerassem dignos de serem relatados para a posteridade. Peguei fases importantes nesse tempo, mas dá preguiça de resumir, pois soam tão ridículos hoje....
Nos últimos dois anos finais a produção do diário foi decrescendo, decrescendo, tornou-se esporádica e hoje desapareceu por completo. Este texto pode ser considerado o meu último no gênero diarístisco, se é que podemos classificar assim. Os cadernos foram ficando amarrotados, mal guardados que foram, enfrentaram mudanças de casa, mudanças climáticas e não resistiram à destruição: acabaram sendo destruídos pelo fogo.
Já não é simplesmente o ritmo de vida que levo o fator que me levou à perda do estímulo de escrever diários. Foi a consciência do escriba diante da folha de papel que mudou. Primeiro, pela questão da própria modernidade: o comportamento das pessoas foi sensivelmente transformado quando elas são colocadas diante de duas opções: o papel e caneta, de um lado; o computador, de outro. O armazenamento de informações na estante ou no quarto dos fundos perde cada vez mais espaço para o armazenamento no computador. Os processadores de texto estão cada vez melhores, há uma série de opções, tanto pagas quanto gratuitas (vide pacote Office, da Microsoft e o Open Office, por exemplo). Se o computador estiver conectado à Internet, pronto, mais um estímulo a pararmos de escrever muitas e muitas linhas e passarmos a digitar apenas o essencial para estabelecer uma comunicação rápida e, principalmente, instantânea com a outra pessoa do outro lado da “linha”. Com a computação em nuvem (cloud computing) mais uma facilidade alcançada: você não precisa mais armazenar seus dados - pelo menos o que você achar que não sejam comprometedores, no que se refira ao sigilo pessoal - no Desktop Pessoal ou Notebook. Deixe salvo em algum repositório da web, que pode ser até mesmo o espaço de armazenamento da sua conta de e-mail, para ficar na mais elementar forma de “computação em nuvem”, talvez a mais atuante até mesmo antes dessa onda cloud ser tão propalada. E mesmo se seu problema for o sigilo de dados, a criptografia pode ajudar a manter suas informações
Mas não posso culpar a internet pelo meu desapego aos diários escritos a mão. A naturalidade com que se processou essa ruptura deixou em mim a certeza de que outros gêneros literários farão mais sentido do ponto de vista social e ideológico e principalmente religioso. nem os diários eram mais importantes, como eu já não sou o mesmo e as coisas velhas ficarão para trás. Eis que tudo agora se fez novo.
Afinal de contas, tirando filólogos e historiadores quem mais se interessaria pela dissecação da vida manuscrita de outrem, ainda mais quando esse outrem é anônimo?
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Um pouco de lógica euclidiana onde a tecnologia ainda não chegou
Saí da Bahia pela primeira vez há três dias. Estou no interior do Estado do Ceará. Riacho Verde. Televisão aqui é mais ou menos como um enfeite na estante. Só é ligada à noite e não até muito tarde, porque o povo dorme cedo. Cada casa tem uma parabólica. O que irônicamente é até um artigo de luxo em Feira de Santana aqui é artigo de extrema necessidade, porque sem ela ninguém pode ver televisão direito. Trouxe meu radinho de pilha para conhecer o sotaque radiofônico da região, mas foi em vão, não capta estação alguma por aqui, em meio a tantas montanhas ao meu redor. Trouxe dois celulares GSM, só um pegou, e mesmo assim, se andarmos cerca de um quilômetro, pegando uma estrada de chão, subindo a um local de maior elevação, digamos, “geológica”. Só um pegou e mesmo assim, precariamente. Formas de economia aqui, isso tem e são exemplares para os homens da cidade grande. A água chega através de um bombeamento elétrico que vai captá-la em uma cisterna um pouco longe daqui. Essa água é armazenada em baldes grandes e é usada para tudo, do beber ao tomar banho. Enquanto isso, gastamos água com superfluidades nas cidades!!! Outro exemplo de economia para subsistência: garrafas pet e tonéis armazenam o milho e o feijão colhidos aqui. Trata-se, logicamente, da estratégia abençoada de José do Egito: guardar os mantimentos que forem possíveis para a época de hostilidade climática. Por fim, também se economiza sabiamente aqui o gás de cozinha, usando-se o bom e velho forno a lenha.
Mas op que importa de tudo isso é consolidação do que eu não vislumbrava. Estar
Por falar em forte, ocorre-me lembrar do clichê do Euclides da Cunha, que diz que o sertanejo é antes de tudo um forte. É um lugar comum, mas sintetiza bem este momento. Precisou eu viajar mais de horas de ônibus para que começasse a entender essa lógica do Euclides da Cunha. Só mesmo tendo uma resistência descomunal para os tornarem tão pacientes, tão esperançosos, tão abnegados de certas comodidades das cidades centrais. É um tipo de renuncia para a qual muitos de nós não estão preparados, inclusive este escriba.
(Riacho Verde, janeiro de 2009)