Já há alguns posts venho falando, ainda que sutilmente, sobre o mau uso que algumas pessoas fazem da internet. Pois bem. Acabo de conferir que o blogueiro (mas engenheiro e professor)
Ruy Flávio de Oliveira, há cinco dias atrás, resumiu bem a questão e percebo que comungamos do mesmo raciocínio. Aliás, eu, o Ruy e você que me lê. Inevitável para mim não tentar "resenhá-lo", neste momento.
Assistimos no Brasil, atualmente, ao que o articulista chama de "protótipo de inclusão digital". Os números de usuários de computadores têm aumentado consideravelmente. No entanto, isso não significa praticamente nada do ponto de vista do quadro educacional precário do país. Pelo contrário: a inclusão digital não trouxe efeitos positivos de imediato para o avanço educacional. Em uma pesquisa citada noutro post, se detectou um fato que pode servir neste momento para clarear um pouco mais: o brasileiro tem mais oportunidade para consumir bens tecnológicos e acesso à internet, mas ainda carece de conhecimento, habilidade mesmo, quando se trata de lidar com tais equipamentos e tecnologias.
Como internautas, muitos demonstram completa imprudência, singrando por mares perigosos e nunca dantes navegados. Parafraseando o professor Ruy, o internauta se atira, na realidade virtual, de barriga em um mar cheio de tubarões famintos. Ou, pelas palavras do blogueiro, "
além de não saberem nada sobre navegação, muitos se lançam ao mar em barcos precariamente preparados e sem saberem nem como nadar". É patente que pouco se pensa em segurança nesse tipo de navegação: salvo alguns itens de software básicos e legalmente adquiridos, tudo o mais - de anti-vírus a editores de texto - se resume a baixar e utilizar e acessar e acessar, naquela sanha do "tudo é free, internet não tem dono, tudo é grátis".
Aos que se deixam levar pelo entretenimento vazio de conteúdo e de critérios, Oliveira deixa um recado certeiro:
"A avidez por diversão, por conteúdo, por novas experiências e novos sites, leva a um frenesi de cliques, downloads e visitas que não obedecem a nenhum critério de análise mais elaborado. 'Que mané critério, que nada' bem poderia ser o slogan para essa horda de usuários. Site com vírus? Quem se importa? Download infectado? Quem se importa?"
Como resultado disso tudo, novos usuários vulneráveis nascem na Internet a cada minuto. Contrariando a idéia que se tem de que o brasileiro manda muito spam, Ruy Flávio afirma que o mérito de ser "campeão" de envio de spam não é nosso, mas vem a ser o "
resultado direto da falta de segurança que vivemos em nossas incursões online. Botnets vasculham ininterruptamente máquinas pela internet afora em busca daquelas que apresentem vulnerabilidades". E "como no Brasil isso é o que não falta, os donos dessas botnets infectam nossos computadores com códigos maliciosos que transformam os PCs domésticos em verdadeiros zumbis, os tais proxies abertos".
Vou concluir repetindo de outro modo o que ficou enfatizado antes: se algo pode ser comprovado de tudo o que estamos vendo acontecer na Internet é o fato de que é precipitado pensar que a tal inclusão digital venha a significar que o brasileiro está tendo acesso a mais informação de qualidade, ou seja, se educando mais, absorvendo melhor aquilo que anos de educação institucional não conseguiu fazer.
Enfim, é falsa a idéia de que acesso a mais informação leve necessariamente a formação. Com isso, ocorre que a internet não mascara a nossa real situação. Também não a corrige, por vezes até a piora, acomoda mais as pessos a um relativo conformismo mesquinho.
A falta de instrução de qualidade, problema atávico do Brasil, fica refletida nas estatísticas de uso da web pelos braslleiros e a pergunta que fica é: o que fazer para mudar o quadro?
Aqui já deixo uma provável resposta registrada: aliar aquilo que a internet tem de melhor ao que o Brasil já tem de antigo, na acepção positiva da palavra. Que os computadores cheguem à salas de aula e que não sirvam apenas para se ensinar word e paint. Que os instrutores de informática sejam banidos das escolas e, por fim, que nós, pedagogos e professores, antes de ensinarmos o que venha a ser navegação segura, sejamos alfabetizados digitalmente.