segunda-feira, 28 de junho de 2010

Os conectados anônimos (CA)

           Não estou muito familiarizado com esse ramo da Psicologia em Informática, nem quero estar por ora, mas é alarmante o aumento do número de dependentes eletrônicos.  Celulares, games e computadores conectados à Rede mundial estão prejudicando o desenvolvimento educacional de crianças em fase escolar. Não os aparelhos em si, óbvio, mas o uso desgovernado desses, provando-nos mais uma vez que o que torna uma tecnologia maligna não é a sua existência/criação em si, mas a nossa relação com ela. Estima-se que até 10% da população  incluída digitalmente  (entre os 12 aos 18 anos) esteja hoje dependente de tecnologia. Isto quer dizer que tais pessoas não conseguem se abster do uso do celular, não se privam de checar a caixa entrada de e-mails, o microblog, o Orkut , etc, em intervalos de tempo cada vez menores. Trocando em miúdos, quem não tem perto de sua casa, ou dentro de sua família, aquele grupo de infanto-juvenis que tão logo acabem de chegar de uma festinha qualquer onde tem sempre alguém que leva uma câmera digital para fotografar e filmar o que puder ser clicado, e no dia seguinte, não corre ávido para o computador  afim de postar tudo no Orkut e nas outras redes sociais??? Por trás do maciço interesse de se mostrar e principalmente o de ser visto, existe a compulsão por tecnologia, em estágio brando, mas que não deixa de ser dependência eletrônica. Ah, claro, sem esquecer do Msn, para fazer o marketing viral da última postagem de fotos...
Tudo isso me leva a crer que nós, pais, precisamos levar nossos filhos para belos passeios educativos: o primeiro deles, para o "parque onde não tem wi-fi", depois para o "circo que não pode ser postado" e depois passar por aquele "diálogo que não pode ser blogado" , ou pelas "agruras de uma vida real não tuitada" e, por fim, passar um belo "dia sem tecnologia alguma", como em um daqueles piqueniques na beira do rio da nossa memória de antigamente. Tudo isso me leva a crer que nós, sociedade (pessoas de carne e osso em meio a um amontoado de instituições e de valores),  devemos tratar  tecnologia (da informação e comunicação) como um acessório adicional dentro da nossa grande teia de relações interpessoais, e somente isso, para que as nossas relações "interpessoais" virtuais não passem mesmo de ser o que elas são, virtuais, algo como uma espécie de cabide ou suporte, às vezes bastante descartável, dos verdadeiros relacionamentos entre pessoas que se conheçam de alguma forma.
Já temos bastantes agrupamentos anônimos de recuperação de viciados, não precisamos de mais este. Conectados sim, mas não isso pode ser a regra.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Banditismo digital

Houve uma história, outro dia, de um pai de família que descobriu (por certo, pela boca dos outros) que sua filha havia participado de um filme pornô. As imagens distorcidas, como se gravadas a partir de um celular, apareceram em um site de pornografias local e, pelo que se sabe, o ato sexual foi realizado com mais de um parceiro. De antemão, esclareço que não assisti ao vídeo, mas a comunidade toda viu, principalmente a comunidade escolar da jovem, que é de menor idade - e a família da mesma! A vergonha que ela sentiu com certeza não foi maior do que a que os pais dela estão sentindo neste momento. Uma jovem que até bem pouco tempo participava de coreografias na igreja local, embora eu reconheça que participar de trabalhos em qualquer igreja local não assegura nada de ninguém, cada um responde pelos seus atos, sejam bons ou ruins.
Ela parou de ir à escola, pior ainda, mudará de escola, mas não resolverá, se não houver uma mudança de face. Cirurgia não resolve nesse caso, ir para outra cidade talvez amenize. Mas arrependimento sincero e vergonha construtiva costumam funcionar. Fico pensando sobre até que ponto esses rapazes, provavelmente maiores de idade, sabiam o que estavam fazendo. Será que eles tiveram o consentimento dela para publicar as cenas? Será que eles "produziram" essa inescrupulosidade porque queriam mesmo "tirar alguma onda" com a jovem? Será que eles ganharam algum dinheiro para isso? Não avaliaram em nenhum momento o quanto iriam afetar gravemente toda a família? Não sei responder a nenhuma dessas conjecturas...

O fato é que eis aí um exemplo de fato que produz, de certo modo, vítimas da internet: as pessoas que não têm nada a ver com essas histórias, que sequer costumam acessar páginas dessa estirpe, muito menos se interessam por fama instantânea, ainda que essa seja negativa, como nesse caso. Pessoas idôneas que por um deslize desses são constrangidas a tomar atitudes mais severas para atenuar a situação.

Infelizmente, a internet tem dessas coisas. Tem gente que se aproveita da desgraça alheia para tirar algum proveito, ainda que não seja ligado ao dinheiro, que não sei se foi o mérito desse caso em particular,  mas buscam a popularidade, a superioridade de 15 minutos (ou 15 segundos), enfim a desgraça de ostentar uma fama bizarra. Por muito menos se poderia qualificar isso de banditismo digital. São as outras espécies de vírus: aquelas que não afetam o seu sistema operacional, mas a sua moral, algo bem mais relevante. Para eles, foi apenas a exposição de imagens de uma jovem por alguns minutos praticando o que eles chamam de "suruba", mas para a família, e para a sociedade que preza por valores humanitários, foi bem mais grave, deixa sequelas.