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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O complexo de aniversário

Eu tenho um complexo de aniversário que é até simples de qualquer um entender: não precisa fazer bolo, não precisa fazer surpresa de parabéns, nem precisa me levar para os lugares para que eu disfarce que não sei de nada. Basta lembrar que "hoje é o seu dia, hein?" e me dar qualquer presentinho que já me dou por satisfeito.

Ainda não investiguei profundamente se eu tive uma infância de aniversários, mas o fato é que não lembro de festa alguma em meu nome. Se assim se deu na minha infância, acredito que meus pai acertaram na minha educação para aniversariantes. Cresci achando datas de meu aniversário como um dia comum, somente com a leve diferença de que estou ficando mais velho. Aliás, cresci achando qualquer data festiva como apenas mais um dia do calendário. E tanto faz ter comemoração, como não.

Seria bem melhor comemorar aniversários se minha vida fosse igual à do Benjamim Button, que nasceu velho e foi virando criança aos poucos. Acho que faria mais sentido comemorar literalmente a minha renovação. 

Ademais, fazer aniversário de adulto com bolo, por mais carinhoso que seja o gesto, eu dispenso. No entanto, se a cada ano as pessoas se lembrarem de mim com um singelo bolo eu sempre irei respeitar e participar. Claro! Ter esta espécie de complexo de aniversário não me tornou um ogro, não me tornou insensível, não me tornou arrogante, nem alienado.

Mas se fosse para eu escolher o cardápio, aqui vai: inventem um almoço, uma pizza, inventem um festival de sorvete, até um festival de frutas ou churrascada, mas não precisa se desgastar com bolo adocicado. Bolo doce de aniversário me lembra alguma comida enjoativa. Aniversário deveria ser o único evento que não pudesse ser enjoativo...

Meu complexo de aniversário é simples, como eu expliquei. Basta apenas as pessoas entenderem que nem tudo o que a gente precisa sentir precisa ser o mesmo sentimento dos outros.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Saudade

Saudade é um processo que se passa no presente sobre coisas vividas no passado. Não me entristeço de lembrar, de ter saudade, mas parece que devia...

Sinto saudades da infância, da Feira com menos progresso em determinados setores (muita coisa melhorou, claro). Sinto saudades dos amigos poucos com os quais perdi contato, ou acabei me afastando, restando simplesmente o cumprimento sem graça.

Sinto saudades até do que não fiz anos antes. Mais ou menos, posso dizer que me arrependo de não ter feito certas coisas, que teriam sido melhores pelo menos por desencargo de consciência. Nada imoral ou ilegal. Mas se tivesse feito, seria até poupado de um possível sofrimento...

Por exemplo: por que eu não cheguei pra 90 por cento das meninas pelas quais me apaixonei (foram poucas) e tive a coragem de dizer isto: "moça, eu gosto de você, sei que não sou correspondido, mas só queria dizer isso". Por que não fiz isto mesmo recebendo um "não" bem grande? Desta forma, sou forçado a crer que sinto saudade de ter sido um cara que não fui, neste aspecto.

Realmente, hoje é extremamente difícil falar em saudade. Sabe aquela frase "minha religião proíbe"? Ela existe. Ter saudade para um crente acaba sendo uma tribulação: você é taxado de pessoa que vive presa ao "velho homem", só porque teve a audácia de dizer, de reencontrar, de compartilhar até mesmo uma fotografia antiga...
A saudade em si é linda. Mas feia se torna porque toda a tarefa trabalhosa do saudoso se resume a acomodar esse sentimento um pouco na vida das pessoas que lhe rodeiam no tempo presente. Estas acabam sendo o grande problema!!!

Por exemplo: imagine um grupo de colegas que se reencontram virtualmente e criam um simples grupo de bate papo. Imagine que todos aqueles que um dia foram colegas de classe hoje estão vivendo suas vidas e seus relacionamentos. Agora imagine quantas pessoas estão ali impossibilitadas de conversar sobre amenidades passadas, pelo simples fato de que pessoas do presente não entenderem aquele grupo do passado? 

Em resumo, esta é a minha vida presente. Há uma reprimenda constante, há um interesse escuso em simplesmente me desligar daquilo que eu vivi no passado. Como se meu passado tivesse sido grande coisa.... Como se eu tivesse do que me esconder, em relação ao passado. 
Antes eu tivesse...

sábado, 26 de dezembro de 2015

Ninguém de ninguém e o poliamor

Assisti na TV que existem estudos acadêmicos sobre o poliamor. Falava a respeito disso, tempos atrás, uma pesquisadora brasileira, que acabara de lançar um livro. 
Sem a mínima pretensao de ser pleno a respeito deste assunto, diz - se que o "poliamor é antes de tudo um polirrelacionamento. É a possibilidade de ter dois ou mais relacionamentos simultâneos, que englobam afeto e sexo".
A mesma pesquisa do Uol fala que o "conceito foi definido em 1990, no glossário de terminologia relacional de um evento em Berkeley, nos EUA, e em 1997, no livro 'Amor sem Limites', de Deborah Anapol". Conta-se que a primeira união oficial no estilo poliamor se deu em 2012.
Sou de formação cristã tradicional, apesar do meu jeito vanguardista (risos), mas reconheço que essa nova confirmação "familiar" poderia evitar muito do que acontece no mundo. Por outro lado, por mais tentador que possa parecer, tenho uma cisma ainda grande de que,em algum momento dessas vidas, apareçam conflitos extremos. Ou não, posso apenas estar sendo ignorante e/ou preconceituoso.
Exemplos 
Conheço homens de formação cristã ou secular que, lá no fundo, desejariam ter uma vida a três ou mais, pois isto serviria para justificar seus desejos gozosos e ainda pacificar seus conflituosos relacionamentos conjugais e - atualmente taxados - extraconjugais. Dessa forma, desde que as mulheres envolvidas se entendam, para esse homem, seria bastante proveitoso, poder transar a vontade com duas ou mais esposas. 
Por outro lado, como ficaria o amor numa situação dessas? E o tal do ciume? Como deve ser o dia a dia desses "casais", quando aparecem outras pessoas na jogada? Só recorrendo a literatura a respeito para saber...
E naqueles casos de poli-casais, em que o macho acabe de afeiçoando por uma de suas várias mulheres? Ou a fêmea acabe se afeiçoando mais por um dos machos? Ou um desses se afeiçoe mais por um do mesmo sexo? Como fica o coração dessas pessoas ao verem sua/seu queridinha/o tendo relações mais "quentes" com outro parceiro de poliamor, muitas vezes diante dos seus olhos? Onde entra a disputa aí? A equação sempre se fecha?
Este post irá continuar...
"Ninguém é de ninguém
Na vida tudo passa
Ninguém é de ninguém
Até quem nos abraça
Não há recordação que não tenha seu fim
Ninguém é de ninguém
O mundo é mesmo assim..."

sábado, 25 de julho de 2015

Ser político, ser pastor, ter bom salário e o sacerdócio

Em uma cidade brasileira, os vereadores estavam prestes a votar um gordo reajuste de salário. A notícia caiu na boca do povo pelas redes sociais e todos foram participar da sessão parlamentar, para protestar. O resultado foi aquele que acontece toda vez que o povo se dá conta do poder que tem nas mãos: os vereadores mudaram de ideia e seguiram o caminho inverso: aprovaram a redução salarial para a próxima gestão, passando a receber um salário irrisório, para que fique claro que a motivação do cargo não é o dinheiro.

Claro está que ninguém é burro ao ponto de achar que essa situação vai ficar desse jeito. Obviamente, os próprios parlamentares irão reverter esse quadro, talvez ainda neste ano (porque muito irão ser reeleitos). O fato é que a política é um sacerdócio bonito, mas faça uma pesquisa para saber quantos estão ali simplesmente por amor a uma causa, ou por amor à nação? Sou levado a julgar que 90 por cento deles investiram na campanha porque um mandato rende diversos tipos de lucros.

Também não quero ser hipócrita para dizer que não gostaria de ter um mandato para ganhar bem. Digo até mais: se esse monte de vereador, deputado e senador tivesse uma redução do salário em 50 por cento, ainda assim, choveriam candidatos, porque continuariam recebendo um ótimo salário, bem acima do que o mercado paga. Se bobear, bem acima do que mereciam - alguns deles.

De certa forma, também fiquei feliz ao tomar conhecimento da notícia de que um ex- pastor evangélico perdeu uma causa trabalhista, porque a Justiça considerou que a função de pastor não é daquele tipo que se caracteriza como um trabalho,  do ponto de vista capitalista. Ser pastor é uma vocação, um chamado de Deus, argumentou o julgador. Até aí eu concordo.


O problema é que as igrejas estão se comportando como empresas há muito tempo. Veja o relato desse ex- pastor da Iurd abaixo,   que você compreenderá o que estou tentando dizer.






Também não adianta ser hipócrita aqui, porque um pastor, mesmo sendo pastor ("profissão" tão desgastada), precisa sobreviver, do mesmo jeito que eu e você fazemos: pagando dívidas,  comendo, bebendo, comprando, etc.

Mas o que determinados tipos de igrejas fazem hoje extrapola qualquer sentimento de justiça. Me diga se é justo uma igreja estabelecer cota de arrecadação para não "demitir" um pastor? Me diga se é justo uma igreja forçar sempre o mesmo estilo de pregação voltado sempre ao "dar, dar, para receber"? Será que O Eterno é esse tipo de "negociante" que eles dizem ser? Não estou acusando a igreja A, B ou C, porque não existe igreja perfeita. Quero apenas tentar colocar uma dose de bom senso na bagaça que acontece em determinados locais.

Acho que cairia muito bem outra coisa: uma dose forte de sinceridade em pastores e políticos. Imagine se chegasse um tempo em que um pastor da Prosperidade dissesse com mais frequência isto: "meus queridos irmãos e irmãs, nós cobramos dízimos e ofertas com toda essa regularidade e ênfase porque a nossa igreja hoje atingiu um patamar tão gigantesco, que precisamos continuar a manter nosso status quo megalomaníaco. Não estamos lá tão interessados em ajudar as igrejas mais fracas, muito menos em destinar pelo menos metade da nossa renda diária para obras verdadeiramente sociais. O nosso interesse em pedir e pedir e pedir é manter o salário dos nossos pastores, patrocinar as despesas dos nossos conglomerados de rádio, TV e outras empresas, fazer investimentos importantes e rentáveis, entre outras iniciativas 'estão na direção de Deus".

Ou então imagine um candidato, bem na hora da propaganda eleitoral, dizer claramente: "meus queridos, venho pedir o seu voto para chegar lá e discutir projetos que já tenho, além de poder lutar por mais justiça social, empregos, melhores condições de vida e outras ações importantes. Mas também não nego que o cargo de vereador/senador/deputado/prefeito/governador/presidente sempre me atraiu, por causa da dimensão social ou projeção que ele pode me proporcionar e, lógico, por causa do bom salário ofertado. Portanto, me ajudem a chegar lá, porque de uma forma ou de outra, vocês terão que eleger alguém. E por que não eu, que tenho projetos?"

Inclusive até eu, se um dia me candidatar, quero pedir a Deus para ter essa coragem...

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O lugar do homem velho nesta sociedade

Qual será o lugar do idoso na sociedade? Qual será o lugar dos pais que pensam poder ocupar a casa dos filhos, depois que estes crescem, ou se casam, ou vão morar sozinhos?  As vezes me sinto convencido de que falta, enquanto filhos, demonstrarmos o devido amor para os nossos pais. Não se trata de beijinho, presente ou abraço, que confesso nunca ter me importado com isso, mas de um apoio prático nos pequenos detalhes da vida. 

Já disse outras vezes que espero em Deus não precisar de apoio dos filhos na melhor idade, porque - a partir do que percebo hoje - cada vez mais as gerações novas não têm e nem terão paciência com a melhor idade. 

Temos dois destinos certos na vida: ou envelheceremos ou morreremos antes de envelhecer. Mas costumamos ignorar sempre toda essa parte do futuro, como se fizéssemos questão de não ter consciência disso. E aí, num belo futuro em que a hora da morte chega ou a da velhice, a gente se dá conta de poderia ter sido diferente a nossa vida passada. 

Por isso que sempre será complicado afirmar categoricamente que dessa comida eu nunca comerei e dessa água nunca beberei... 

Talvez exista mesmo em cada pessoa uma espécie de "efeito bumerangue" comandando nossas atitudes: o que você faz hoje com o seu próximo,  seja algo de bom ou de ruim, certamente um dia retornará para você. Ou, por outros termos: que as palavras que pronunciamos hoje não sejam utilizadas contra nós mesmos lá na frente... 


terça-feira, 14 de julho de 2015

Não dê a descarga, após usar

Há anos que sofro com um dilema e tanto: dar ou não dar a descarga? Eis a questão. Não são raras as vezes em que tomo um grande pito da minha "patroa" ou indiretas em outros ambientes sociais por causa disso (porque as pessoas nunca querem ser mais sujas do que as outras, uma vez que fazemos parte da cultura do que é limpo, pelo menos na aparência).

O fato é que todas as donas de casas do mundo parecem obrigar os habitantes dos banheiros a dar a descarga todas as vezes que o vaso sanitário for usado. Eu considero isso um ultraje e tanto! Fico revoltado quando uma pessoa vai ao banheiro e, apesar de não ter deixado lá sequer 20 ml de urina, se sente na obrigação imposta pela sociedade - ou acha isso uma coisa justíssima - de despejar 15 a 20 litros de água para não deixar odor no recinto. Por que as fabricantes de produtos de limpeza não encontram logo uma solução para combater esse péssimo hábito social??!!?? Porque eu tenho sido completamente infeliz na educação dos meus filhos, quando lhes digo que isso é um suicídio lento da raça humana???!!!?

Não é de hoje que considero o vaso sanitário um dos maiores inimigos da economia de água no mundo. Sei que soluções menos gastadoras estão no surgindo, mas no Brasil a grande realidade que se vê é aquele tradicional vaso sanitário com descarga cheia que precisa ser utilizada toda vez que uma pessoa dê uma simples mijada.

Falar de mijo e bosta não atrai a ninguém, porque infelizmente somos pudicos para alguns assuntos. Ninguém escreve sobre arrotos, peidos, cagadas (pelo menos as literais) e mijadas da vida. Ninguém quer ficar do lado dos que pensam diferente, porque vai acusar isso de "imundície". Por exemplo, ninguém parece ficar do lado de quem pensa ser o banho uma tarefa básica da vida que não precisa levar meia hora ou mais para acontecer todos os dias - ou até mesmo várias vezes por dia! Qual a necessidade de um homem que é homem passar meia hora no banheiro com o pretexto de estar tomando banho?

Aquela simulação do casal gastador de água do Fantástico (exibida no domingo dia 12/07/2015) só assustou (revoltou/causou comoção) aos transeuntes porque há meses foi dado o sinal vermelho sobre a carência de água em alguns Estados do Brasil. Queria ter visto aquela mesma cena em um outro contexto. Eu, por exemplo, que moro há poucos metros de um "pedaço" do Rio São Francisco, ainda não vi ninguém se alarmar por causa de uma mangueirinha boba gastadeira, ou por causa de um vaso sanitário que precisa ser desinfetado a cada mijada boba de 15 ml...

Com isso, não quero dizer que sou totalmente contrário ao limpar o vaso sanitário a cada micção, pois reconheço que a urina humana tem o incrível dom de deixar o ambiente pessimamente odorizado. Na verdade, eu vivo torcendo é para que algum empresário ou inventor acabe com essa lógica do gastar de água e crie alguma tecnologia capaz de combater isso. Agora, no tocante aos dejetos humanos sólidos (as nossas fezes), essas aí ainda precisarão mesmo contar com a boa e velha descarga de água, pois não tem jeito para elas.

Acho que depois de bosta de gato e de cachorro, a de gente é a pior coisa que existe na face da terra. Tenho um gatinho jovem que ainda vai me matar de ódio, porque vez por outra ele costuma fazer os seus serviços sujos pela casa. Mas entre limpar bosta de gente e limpar a de um gato, eu fico com a deste último.

Meu dilema não está resolvido simplesmente por conta deste desabafo. Sei que - enquanto água com relativa fartura houver no mundo - ainda terei que me debater todas as vezes em que for ao banheiro realizar a mais elementar das tarefas fisiológicas humanas (depois de comer e beber, é claro). Ou todas as vezes que levar um pito educado ou descomposto de alguém por ter "esquecido" de dar a descarga.

Só quero dizer às pessoas que eu, talvez safadamente, nunca me esqueço de dar a descarga quando vou ao banheiro. Tudo o que eu faço ali dentro é proposital. É onde eu exerço o meu inútil gesto de protesto, totalmente incompreendido pelo mundo...

Por isso que meu lema é: "não dê a descarga após urinar. Espere alguma bosta chegar".

E, cedo ou tarde, ela vem.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

O WhatsApp é inimigo da concentração

Já desisti há muito tempo de querer acompanhar as mensagens dos meus grupos “preferidos” no WhatsApp. E olha que tenho poucos, muito poucos: um da família, outro de colegas do trabalho e, atualmente, mais um, sobre um tema que considerei interessante para mim, mas que já estou quase saindo fora, por não conseguir acompanhar a nuvem gigantesca de mensagens que chegam em uma velocidade que é para mim é maior que a da luz! Tenho recebido propostas para ingressar em pelo menos mais três grupos. Porém, acontece que cada vez mais venho me sentindo tentado a não cair nessa tentação. 
Como essa rede social é relativamente nova, tenho experiência de já ter tentado entrar em grupos de interesse por mais de uma vez. Tudo isso graças a uma outra praga do mundo moderno, inimiga da minha concentração, chamada Facebook. Uma vez, irritado com o uso excessivo que meus filhos faziam da rede de Zuckerberg, apelidei o dito cujo de “diabo disfarçado de azul”. 
Pois bem, é não é que esse diabo travestido de azul está se tornando um divulgador de “produtores de grupos” no diabinho travestido de verde (WhatsApp)? Essas pessoas conseguem rapidamente ver suas criações grupais viralizadas ao máximo, fruto da explosão de consumo dos smartphones e tablets que está acontecendo hoje - algo graças a Deus até democrático, pois não está mais tão vinculado ao nível socioeconômico das pessoas. Assim, só se vê aparecendo grupos de vendas de celulares, de vendas de bugigangas eletrônicas, de vendas de carros e motos, grupos de teologia, grupos de gramática (todo mundo querendo corrigir os “erros” dos outros), grupos de filosofia (todo mundo querendo “elevar o nível das conversas”), grupos de membros de igrejas, ex-colegas de escolas, etc, etc. Ainda não vi grupo de oração no WhatsApp, mas devem existir, e eu torço para que orem pela própria ferramenta.
Ano passado entrei para um grupo sobre o concurso de que estava participando.  Foi grande a minha própria decepção, porque passei da empolgação de estar “antenado” com o que rolava na cabeça dos colegas candidatos, para um sentimento de tédio. Por isso que digo: o WhatsApp é um sério candidato a ser meu inimigo da concentração.
Mas para encerrar sendo paradoxal, não posso negar que o “zap” também é “amigo da concentração”. Não a concentração pessoal, essa do nosso egoísmo para cumprir nossas metas, mas aquela que junta um monte de gente mais ou menos com propósitos comuns e acaba agregando algum valor às nossas vidas. Saímos um pouco das nossas ilhas com essas redes. E não existe nada mais belo do que gente conversando com gente, gente se entendendo com gente, gente se aproximando – na paz – de gente...

O texto está corrigido, mas foi primeiramente publicado no blog Oeste Alerta: http://www.oestealerta.com.br/2015/05/o-whatsapp-e-inimigo-da-concentracao.html


domingo, 19 de abril de 2015

O lugar do idoso

Tenho uma nova vizinha na melhor idade, que vive atualmente só. É uma simpatia para com a minha filha mais nova, é uma ex-professora, que até se interessou por fazer uma tabuada para ela e ensinar matemática, nos moldes que ela conhece:nada de calculadora ou celular.   O filho dessa senhora morreu há três anos de um câncer agressivo, a outra filha mora em outra cidade.  Não sei descrever a sensação de solidão, não sei o que se passa na cabeça dela. Julgo ser terrível a solidão...
Fomos para um passeio, um sítio de amigos novos, tinha muita gente de família, mas uma senhora era a diferença: a única pessoa na melhor idade da família. Ela estava passando pela mesma solidão, apesar de todo respeito dos netos e dos filhos.  Eu não saberia descrever o que se passava na cabeça dela. Seria a mesma solidão?
Felizes essas duas senhoras, pois pelo menos suas famílias ainda as acolhem (pelo menos do ponto de vista físico). Mas o lugar do idoso numa família tem sido uma coisa preocupante para mim.
Tenho dito que não esperarei reconhecimento de filhos quando eu chegar na melhor idade, nem de outras pessoas.  Hoje a sociedade somente dá valor ao valor que as pessoas pode gerar, durante a tal da vida produtiva.
O que será daquelas duas senhoras nos próximos anos das suas vidas?

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Coisa de passageiro

No universo de um ônibus coletivo é que você percebe o poder da solidão.  Cada um de nós, passageiros, exercendo o nosso atributo miserável de nossa própria individualidade,  da forma mais ou menos civilizada possível. Há ônibus em que o motorista ou o cobrador têm a sabedoria de ligar o som para ouvir músicas. Acho uma boa, independente do tipo de música, pois ela nos permite ter acesso a essa válvula de escape tão necessária hoje, para desfrutarmos o prazer de sentir algum tipo de epifania nesta selva urbana.
As pessoas com seus olhares, fazendo gestos de que nunca estiveram olhando umas para as outras;  os nossos gestos oriundos de uma educação metida a polidez; e nossas idiossincrasias presas entre as frestas, por onde conseguimos talvez respirar melhor...
Um ônibus chega ao ponto, abre-se a porta dos fundos, as pessoas descem, de repente a cobradora dá sinal para o motorista fechar o fundo, só que ainda tinha uma mulher descendo. A porta se fecha e a mulher fica com um braço preso entre as duas bandas da porta.  O motorista reabre o acesso,  a mulher desce calmamente,  mas aí ela se dirige à porta da frente e diz:
- Motorista, você é um pai no c...!!!!
E ela sai soltando mais descompostura, muito brava.
Isso é uma cena comum nesse cotidiano conturbado de pegar ônibus coletivo. No meio público,  aqueles que são dados à descompostura verbal soltam ainda mais os seus cachorros. Já outras, mais dadas à expressão passiva e mansa como eu, ponderam as coisas da vida, em pensamentos, em frases sintéticas sobre a condição humana ou mesmo em uma crônica como esta.
Para encerrar está conversa, acho que uma das palavras mais acertadas do português para se referir a nós que pegamos transporte coletivo é "passageiro". A gente pega a condução,  fica naquele aperto,  às vezes chega uma catarse pela música que toca, e pronto: tudo passa em minutos.  Era só uma coisa de passageiro.  Foi só uma coisa passageira...

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Os satanistas

Eu estava em casa.
Era noite, algo em torno da madrugada de 30 de dezembro de 2014.
(A data não parece ser importante aqui)
Alguns homens os quais eu reputei como satanistas
Estavam do lado de fora da minha antiga casa.
Eles confabulavam alguma coisa,
Pedi que interrompessem aquela conferência,
Ou conspiração,
Pois estava atrapalhando meu sono e repouso.

Lembro que cheguei a ir até a porta
Para pedir com certa veemência.

Pareciam dispostos a atender meu pedido,
Mas minutos depois a confabulacão continuava
E aquilo incomodava,
Como se fosse um burburinho.
Eu me sentia impotente diante daquela situação.
Era na calada da noite e eu queria somente dormir.

O sonho não evoluiu para outro enredo,  mas tive a certeza de que não fora um simples sonho,

Alguma coisa importante Deus estava me dizendo ali
Que até hoje estou tentando interpretar.

domingo, 16 de novembro de 2014

Em meio a tantas negatividades...

Em meio a tantas negatividades processadas, praticadas, permitidas e repisoteadas em cima do meu lombo, cá estou eu sendo essa mesma pessoa,  ainda o mesmo cristão...

Em meio a uma atitude negativa de um lado, cá estou eu tentando permanecer firme. Será que isso não é ter fé ou é ter muita fé na vida? Será que alguém imagina estar vivendo de hipocrisia? Simplesmente, respondo para mim mesmo que sou humano, falho como meu semelhante,  carente de intercessores constantes. Como tantas pessoas.

As vezes me considero antissocial,  coisa que eu não duvido. De vez em quando me considero pouco afeito a demonstração de anfitrialidade. Deve ter um pouco de verdade nisso tudo. Muitas pessoas consideram tudo isso como um grande pecado,  pelo qual eu deveremos pagar na posteridade.  Meu Deus, e pensar que eu só me considerava um ser humano!

De tanto ouvir negatividades e de proferir algumas outras, há momentos em que acabo me dando conta de que parecem verdades.... Aquela velha história de que quando se conta uma história várias vezes ela acaba se tornando mais do que um folclore.

Há um dizer do qual me lembro neste momento,  em que a melhor tradução é este trecho de canção: "sou o que soa, eu não douro pílula". Neste momento é o que mais me aproxima do que estou sentindo: não  tenho a menor ambição que seja em me travestir de uma máscara, muito pelo contrário. Todo crente deve exercer a dignidade de jamais esconder suas fragilidades,  sejam quais forem,  desde as menos significantes às mais. Por isso que em meio a todas as negatividades,  seguirei meu caminho,  disposto a ser julgado apenas por um Ser.

domingo, 29 de junho de 2014

Mínima filosofia das filas

Não vou afirmar categoricamente qual é o pior tipo de fila. É essencialmente difícil ter essa dimensão, porque depende do momento. Por exemplo, para quem espera por uma cirurgia de transplante de órgão, essa é a pior fila do mundo. Quem estiver no corredor da morte certamente conta os dias como nunca precisou contar em toda a sua vida.

Para mim, que escrevo estas enfileiradas palavras, a pior está sendo  dos bancos. Independente da senha que a pessoa pegue, a prática desses estabelecimentos é nos prender dentro deles por pelo menos uma hora, só para nos pirraçar, como se dissessem assim: "agora, você sabe quem é que comanda a sua vida!" Os bancos consomem nosso pouco ou muito dinheiro, minam o nosso precioso tempo muitas vezes já apertado e muitas vezes parecem fazer de tudo para tornar a nossa vida a pior possível.

É inútil reclamar. O atendimento não muda. Parece mesmo o Brasil, onde as coisas, principalmente, os vícios de atraso de vida não mudam. Talvez a nossa única evolução seja mesmo o futebol, fato que fica tão evidenciado em momentos de copa do mundo. Os bancos têm tantas mesas disponíveis, mas neste momento, por exemplo, só trabalham dois funcionários! Sei que nos hospitais, neste mesmo momento, tem gente em filas piores do que a minha, de duas, três, quatro horas sem solução, mas infelizmente o ser humano tende a olhar para o seu rabo, sempre e sempre.

Infelizmente, as filas têm um duplo sentido: fazem falta e fazem raiva. Como também servidor público que sou (igualzinho a esses funcionários da Caixa, embora não pareça), sei que as filas são essenciais pra a manutenção organizacional do mundo. Geralmente, temos alguma espécie de fila em tudo: até mesmo para se conquistar alguns motivos de orgulho, de certa forma, temos que entrar na fila. É assim nos concursos, é assim na igreja, é assim na política, é assim nos negócios, é assim na indústria, é assim no capitalismo, é assim na humanidade.  A burocracia depende das filas, e falo burocracia no sentido positivo da palavra, porque todo brasileiro está acostumado demais a depreciar a burocracia.

O que também não posso negar é que, por outro lado, as filas são uma das instituições mais capazes de nos irritar. Sempre que encontro-me numa fila, vejo que meus companheiros de fila e eu acabamos tendo mais a exata noção sobre como é de fato o funcionamento das coisas deste país. É nas filas que temos mais capacidade de falar das nossas mazelas gerais, algumas delas históricas, insolúveis: segurança pública, saúde, corrupção na política e, é claro, os maus tratos dos bancos para com seus clientes. Todos nós nos fazemos de vítima.

A irritação de se pegar uma fila no banco é interessante: nós, clientes, nos tornamos capazes de nos irritar com a simples troca de gracejo entre um funcionário e outro, como se eles estivessem sentindo prazer com nossa falta de paciência. Somos tentados sempre a entender que eles estão naquele momento tirando sarro de nossa cara de otários. Embora não seja isso que na verdade eles estejam sentindo, coitados dos funcionários...

Quando eu morrer, acho que gostaria que pusessem alguma frase em meu epitáfio, que mencionasse a palavra "fila". Algo do tipo: "Foi feliz, amou na vida, sonhou, pegou muita fila e hoje está aqui, na última fila - da qual ninguém pode se recusar a entrar e esperar."

sábado, 31 de agosto de 2013

O Google e o desaparecimento de Agda

Outro dia, alguém me disse que se alguma coisa não é achada no Google, é porque certamente essa coisa não existe. Em tempos de Google dashboard, integração com o Facebook e todo o tipo de maneira para ser achado pelos buscadores em geral, é realmente de se lamentar não encontrarmos aquilo que pesquisamos, relacionado a algo ou a alguém.

Acontece comigo vez por outra, em parte devido à pouca frequência com que as pessoas, principalmente no nordeste do país, acessam a internet e em parte porque os vínculos que as pessoas têm criado durante esses acessos não o permite, por serem pouco consistentes. Sem falar no fato de que muitas pessoas físicas e jurídicas simplesmente só "existem" na web em uma simples citação dessas de site de lista telefonica, ou seja, falta muito para essas pessoas perceberem o potencial que a internet tem para divulgar o que andam fazendo. Talvez o verbo não seja perceber, mas aderir.

Muita gente acessa a internet sim, mas isso não quer dizer que possuam o que se pode chamar de “vida online”. Tem gente que só vai à lan house pesquisar alguma coisa, não se “loga” a coisa alguma (perdoem-me pelo verbo logar?), se limita a navegar por mares de águas diversas, desapegadamente, no máximo faz um login apenas para conferir as últimas do Orkut. Tempos atrás (entre 2003 a 2006, principalmente), frequentava lan houses, mas só acessava a web para checar webmail e pesquisar qualquer coisa, ou então para finalizar algum trabalho escolar que necessitasse de internet - e isso somente nos tempos universitários, porque até pouco mais de uma década eu só conhecia uma espécie de ferramenta de busca: a Biblioteca Municipal Arnold Silva Plaza e a Monteiro Lobato, em Feira de Santana. Blogosfera? Curso à distancia online? Leitura de RSS? Twitter? Google Docs? Zoho? Portal de Periódicos? Wave?

Passava longe de tudo isso, em parte por desconhecimento, em parte por falta de tempo mesmo para se debruçar e por achar lan house extremamente desconfortável. Afinal de contas, não existe conforto algum em você ficar sentado naquelas cadeiras, vizinho de outras pessoas, geralmente adolescentes barulhentos focados em games da moda, pagando por um tempo de uso da máquina, sem privacidade alguma e pressionado pelo cronômetro daqueles softwares infames de cybercafé, que transformam todas as máquinas da lan em zumbis "dedicados"...


Ademais: certos usufrutos da web demandam tempo para digestão, conhecimento dos bastidores, participação efetiva, crítica, interlocuções diversas, enfim, não é um exercício propício para ser realizado nesses centros, pelo menos de maneira plena, a não ser que você não trabalhe e só viva para isso. Lógico, quando não há jeito a gente faz, muita gente faz, porém perdemos muito em comodidade, conforto mesmo.

Mas voltando ao assunto de não ser achado, de fato, passo por isso de vez em quando. Por exemplo, recentemente ao pesquisar pelo nome uma pessoa que foi minha colega de escola na adolescência, que se chama Agda, simplesmente não consegui achar nada sobre. Disse que ela "se chama” porque está viva, pelo menos é no que eu sou levado a crer, convictamente. Por irônia, ela tem uma palavra no sobrenome que é atípico, “Fllans”, o que poderia me levar a crer que seria o diferencial, mas mesmo assim, dá insucesso. Não sei se estou usando a combinação de palavras certas para achá-la, até porque não se trata de uma questão de urgência ou de necessidade imediata: a minha única intenção é dar um simples alô e ter certeza de que essas e outras pessoas que passaram por nossas vidas em algum momento continuam tendo lembrança também. Tudo que encontro é uma citação do seu nome em uma lista de classificados para um vestibular ou algo do tipo, na UFBA, em 2005. Não é nada pessoal. Nunca tive nada com essa pessoa, a não ser a oportunidade de ser colega de turma por uns três anos, sempre nos tratamos com o devido respeito e com as formalidades no seu devido lugar.

De qualquer forma, ficou claro que esse sumiço de Agda só demonstra que o que não é achado nos servidores da Google com certeza existe. Na Lembrança.
Artigo originalmente publicado em março de 2010.

Outros tempos modernos (uma paródia)

Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isso de dentro do ônibus
Que de tão lotado
Quase não dá pra respirar.

Eu quero crer no amor numa boa
Que isso valha pra qualquer pessoa
Que for dar lugar
Àqueles com direito a sentar

Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade
Pra esperar sem se chatear

De ônibus o tempo não voa, amor
Se perde pelas mãos
Mas sei que mesmo assim
Vou tentar viver o que sobra, amor
Quero ver ainda o final disso aqui
Se meu Deus permitir...

Casos e casos

Do ato de emprestar

Tem gente que sabe emprestar, 
Mas tem gente que não sabe devolver o emprestado.
Tem gente que sabe que emprestar

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A cor que o meu mundo traz - contribuição à Cia dos Blogueiros


Enquanto aguardamos a nossa participação no projeto "O Maior Poema", promovido pela Cia dos Blogueiros, transcrevemos aqui uma pequena contribuição adiantada em matéria de poesia. Quando tivermos o mote do candidato anterior, publicaremos a estrofe válida para o projeto, mas enquanto isso...

quarta-feira, 1 de janeiro de 2003

Crônica de um operário

Eu era uma peça de reposição falante*. Trabalhei cerca de cinco anos naquela empresa, cumprindo uma jornada de quarenta e oito horas semanais. A firma não podia parar, precisávamos todo o dia “dar produção”. E se alguém não quisesse se sujeitar aos padrões de “otimização” da produção diária
poderia ir logo dizendo, pois lá fora a fila de desempregados(desesperados) estava clamando pela desistência dessa pessoa. Na fábrica, não líamos nos murais por onde circulam as comunicações internas, a palavra “trabalhador”, “funcionário” ou “empregado”. O qualificativo mais em voga era o de
“colaborador”. Não raro, líamos nesses murais:

“AVISO
Comunicamos aos nossos colaboradores que, em virtude dos sérios
problemas financeiros por quais passa a nossa empresa, o pagamento da 2ª
quinzena do mês X está previsto para ser efetuado no dia Y/ Z.
Agradecemos a compreensão,
A Direção”

Para nós, ficava mais do que óbvio que esse dia Y/Z seria uma data bem acima do que nossos credores poderiam suportar aguardar. Concordávamos numa coisa: quando uma empresa além de pagar pouco paga
com atraso, fica mais do que evidente que algo de ruim pode acontecer a qualquer tempo. (Ironicamente, anos depois aconteceu mesmo: essa empresa se quebrou e teve o patrimônio levado a leilão público, gerando uma receita imensamente inferior aos seus débitos todos).

Pior do que esses avisos de mural eram as chamadas para reunião coletiva entre a suposta direção e a gente (nunca o dono comparecia, só mandava o gerente ou similar), para explicar os mesmos problemas e nos pedir mais compreensão ainda. Nos vestiários e corredores não nos cansávamos de ouvir os mais revoltados proferindo descomposturas pesadíssimas contra os patrões, aliás, contra a empresa toda. Isso por sinal era a rotina: em todos os bastidores da gente era costume certo praguejarmos contra o incerto rumo da empresa, que a cada dia mais tirava o nosso ânimo de ali permanecer:

- Rapaz, eu não suporto mais Fulano de Tal (geralmente, um encarregado ou líder de produção). Eu tô com vontade de mandar ele pra p.q.p. Qualquer hora eu vou dar uma “pagação” em Sicrano também, que ele vai se arrepender de ter me chamado num canto!!! (sic)

Como a gente não conhecia lá a personalidade de um só patrão, acabávamos concordando quando ouvíamos alguns colegas mandando todos os “chefes” para aquele lugar... De fato, patrão é uma figura que estava em extinção, hoje acho que a coisa ainda é assim.O patrão não nos demitia.

Quem nos demitia só podia ser o encarregado, quando nos encaminhava para o “setor de pessoal”. Por exemplo, quando a empresa já não suportava um funcionário que vinha há algum tempo “ esculhambando” o serviço (sendo agressivo, faltando muito, IMPRODUTIVO – tudo de propósito para ser mesmo demitido e sair indenizado), o encarregado chamava ele a um canto e dizia-lhe enfim a oração esperada:

- Sicrano, compareça lá no setor de pessoal...(sic)

Eu também não sabia mesmo, como os demais colegas, defender os argumentos do patronato. A gente sempre achava que patrão tinha mais era que se danar e pronto! Afinal, num contexto como o nosso, em que vigorava a máxima do “muito trabalho pra pouco salário” só nos restava encher de injúrias a quem nos explorava massificadamente. Era o que eu pensava naquele tempo.

Ademais, um dia estive pensando, depois de um aula de filosofia: por que se premiava o tal do “operário padrão”? Quais seriam as “qualidades” ostentadas por esse felizardo do ano, no fundo talvez mais um “Pedro Pedreiro penseiro esperando...”? Operário padrão seria aquele que melhor desempenhava o seu exercício diário de alienação passiva? Seria aquele que melhor se conformava à situação, por mais adversa que esteja no país, já que tem bocas para dar de comer?

Será que Lula foi na sua época um operário padrão? Muito improvável... Ou será que, vendo por outro âgulo, Lula não teria sido o verdadeiro operário padrão de que o Brasil precisava?

Parafraseando Brecht, são perguntas de um operário que lê. Pelo menos um consolo eu tive nisso tudo: consegui ser demitido antes de a empresa falir. Isso quer dizer que recebi meus “tempos”!!!

* Este que eu classifiquei livremente de crônica foi um texto escrito por volta do ano de 2003.
Graças à colega Isis Moraes, foi publicado no suplemento cultural do jornal Tribuna Feirense, mas não encontrei registro da data correta. Quando encontrar, atualizarei.