sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O blogueiro e o vendedor de perfumes II

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Quando escrevi sobre o marketing multinível da Up! Essência, meu interesse não era vender perfumes aos leitores, nem fazer apologia da marca, porque eu nunca ganhei um real por post patrocinado, pelo menos neste blog. Muito embora o modelo de negócios da marca houvesse me agradado à época, não me considero apto para trabalhar naquilo e depois que conheci um pouco mais a linha de fragrâncias, decidi mesmo que não tinha faro para aquele negócio: ele exigiria de mim algo que eu precisaria treinar muito para conquistar. E não demonstrei interesse algum em fazê-lo, como até hoje não demonstro.
Por falar nisso, o engraçado é que desde a minha infância sempre tive bons desgostos ao lembrar de empresas de cosméticos de venda direta. Meus problemas não são diferentes de uma grande parcela dos brasileiros que vivem desse negócio. Mas é preciso dizer enfaticamente que não tenho nada contra quem venda e desejo muito sucesso a quem realmente conseguiu mostrar que se trata de uma profissão rentável sim. 

Contudo, o fato é que definitivamente não tenho boas lembranças de Avon, de Natura, de Cristian Gray, de Hermes, de Mappin Postal (perdoem-me as grafias das marcas, não quero ser original nisso) e de qualquer outra empresa do setor. A cena que me vem à mente muitas vezes é de minha mãe com dores de cabeça de tão preocupada que estava em quitar o boleto de cobranças desses produtos. Essas empresas são implacáveis na cobrança de juros, a pessoa paga ou suja o nome, não havia meio termo, mas parece que hoje certamente já devam ter surgido algumas "facilidades de parcelamento", pelo menos é o que espero com bastante otimismo. 

Ao lembrar de Avon, de Natura, de Cristian Gray, de Hermes, de Mappin Postal e congêneres, a cena que me vêm à mente também é mais recente e não menos desesperadora: eu tendo que arcar com determinados prejuízos monetários para que uma "cota" da Natura ou da Avon seja alcançada e o madito pedido possa ser "descido", na terminologia dos vendedores de porta em porta. E ainda mais esta cena: eu tendo que recorrer a bons serviços como o da Proteste e o do Reclame Aqui para contornar tomadas de decisões erradas de alguns vendedores...

Desculpem o preconceito, mas com todo o respeito que tenho aos trabalhadores dessas empresas (que por sinal, não têm direito a coisa alguma, entram sem muitos recursos e saem geralmente da mesma forma, se bem que já se ouve dizer que algumas recolhem o INSS de seus "cooperadores"), em muitos momentos de revolta, considerei essas empresas como verdadeiros migradores de nossas divisas financeiras. Isso mesmo, "migradores", no mesmo sentido que os teólogos da prosperidade usam tão bem... Hoje, não sei se utilizaria o mesmo termo para exprimir-me em relação às mesmas.

Poderia dizer de maneira bem precipitada que nunca vi alguém "crescer" ao longo dos seus 20 ou 30 anos de Avon ou de Natura, mas sei que em muitos apuros essas empresas acabaram ajudando 
bastante esse alguém, da mesma forma que via alguns trocados sempre surgirem do bolso da minha mãe graças a esses trabalhos. Mas eu sou sensível a esses vendedores e penso que melhores políticas trabalhistas (não digo nem "salariais") deveriam ser criadas para satisfazê-los. Afinal, é de vendedores de porta em porta que essas empresas são o que são. Gastam tanto em marketing televisivo, por que não gastar mais um pouco numa política relativamente social para seus "empregados"?

Então, a única coisa a ser mesmo lembrada para quem vende é a mais simples: trabalhar com vendas diretas exige da pessoa uma responsabilidade grande, ao ponto de estar disposta a superar certos percalços e a levantar a cabeça em meio às inadimplências. Isso porque se você não tiver uma visão um pouco mais ampla do que o seu cliente, não será capaz de prever que em certos momentos, ele lhe dará um péssimo calote e você terá que ter provisões para "cobrir aquela caixa", para usar mais uma vez uma expressão cara do setor popular. Esta é mais uma vantagem do blogueiro em relação ao vendedor de perfumes: se o leitor não "pagar" o post, fica mais fácil do calote ser "coberto" pelo próprio blogueiro.

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