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sábado, 3 de setembro de 2016

A presença de Deus na MPB: Cartola e o preconceito

Em "Preconceito", um samba-canção com poucos versos, o pano de fundo é o amor passional ou relacional, como em 99% das canções populares. O poeta e sua amada se sentem perseguidos pela - talvez - sociedade, por terem um amor que não podem viver plenamente. Não se sabe ao certo a causa da perseguição, mas qualquer um pode conjecturar: talvez um homem negro e pobre amasse uma mulher branca ou de família mais abastada e a oposição viesse daí. Talvez rixas anteriores de pessoas que não gostariam de ver o casal se unir de fato. Enfim, cada um pensa e aplica a letra como achar conveniente.

Fechando a canção, o poeta-sambista diz que ele e a amada receberam do céu a "benção de Jesus, que é mensagem de paz". A flexão verbal utilizada ("recebemos") também pode estar se referindo aos seres humanos em geral (que receberam dos céus a mesma mensagem de Jesus), mas se assim o for, não se prejudica a "lógica" que o poeta quis pregar, afinal.

Crime, é mais que um crime
É desumanidade, essa perseguição
É o cúmulo da maldade

Se todo mundo sabe que nós nos casaremos, 
quer queiram, quer não

Oh, maldito preconceito
Afasta-te no ajeito, a que nada conseguirás
Porque recebemos dos céus a benção de Jesus, 
que é mensagem de paz



Nosso amor não acaba mais
Viveremos sempre em paz

A presença de Deus na MPB: outra vez Raul Seixas

A letra se define por si mesma. Fala um pouco de culpa, de vergonha e, no fundo, fala até do pecado original, da nossa consciência diante do Eterno, da onisciência de Deus em nossa vida.
Apesar de ter aquele sarcasmo típico do Raul, que beira à ironia pura, a canção tem sim um toque divino: revela um pouco a presença de Deus na criação/infância do eu poético (pode ser ou não ser o próprio Raul, mas isso não vem ao caso, ele cantou, defendeu a ideia da canção). Até o fato de "estranhar" a visão que tinha, ao chamá-la de "paranoia"...

  • O primeiro artigo que fizemos sobre a presença de Deus nas letras de canções de Raul Seixas está aqui

A história de Raul, como está mais do que clara nas suas biografias e documentários, foi permeada pelo que hoje se poderia chamar de estilo "vida louca". Mas considero que não dá para negar que ele - ou o letrista/poeta que vivia dentro daquela pessoa - de vez  em quando transparecia alguma coisa que até se poderia chamar de religiosa. Às vezes isso resvalava para o lado do Divino - Deus ou Jesus Cristo (algumas vezes até com sarcasmo exacerbado, como por exemplo ao ridicularizar a figura de Jesus Cristo em "Al Capone"), às vezes para o lado do Diabólico...

Quando esqueço a hora de dormir
E de repente chega o amanhecer
Sinto a culpa que eu não sei de que
Pergunto o que que eu fiz?
Meu coração não diz e eu...
Eu sinto medo!
Eu sinto medo!

Se eu vejo um papel qualquer no chão
Tremo, corro e apanho pra esconder
Com medo de ter sido uma anotação que eu fiz
Que não se possa ler
E eu gosto de escrever, mas...
Mas eu sinto medo!
Eu sinto medo!

Tinha tanto medo de sair da cama à noite pro banheiro
Medo de saber que não estava ali sozinho porque sempre...
Sempre... sempre...
Eu estava com Deus!
Eu estava com Deus!
Eu estava com Deus!
Eu tava sempre com Deus!

Minha mãe me disse há tempo atrás
Onde você for Deus vai atrás
Deus vê sempre tudo que cê faz
Mas eu não via Deus
Achava assombração, mas...
Mas eu tinha medo!
Eu tinha medo!

Vacilava sempre a ficar nu lá no chuveiro, com vergonha
Com vergonha de saber que tinha alguém ali comigo
Vendo fazer tudo que se faz dentro dum banheiro
Vendo fazer tudo que se faz dentro dum banheiro

Para...nóia

Dedico esta canção:
Paranóia!
Com amor e com medo (com amor e com medo)
Com amor e com medo (com amor e com medo)
Com amor e com medo (com amor e com medo)
Com amor e com medo (com amor e com medo)

Com amor e com medo


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A presença de Deus na MPB: Lupicínio Rodrigues

Este é Lupicínio Rodrigues, que compôs um samba memorável, cuja letra mistura o sentimento de um coração partido pelo amor à amada que não é correspondido, aliado ao questionamento sobre a razão para Deus ter enviado Cristo à terra. Se Cristo veio para semear o amor, por que o eu lírico tanto padece por aquele amor não correspondido, e ainda permite - Deus - que ele sirva de riso para a humanidade.

Vale à pena ouvir este samba, dê um play no vídeo a seguir e leia a letra: 

E aí eu comecei a cometer a loucura
Era um verdadeiro inferno, uma tortura
O que eu sofria por aquele amor

Milhões de diabinhos martelando
O meu pobre coração que agonizando
Já não podia mais de tanta dor

E aí eu comecei a cantar um verso triste
O mesmo verso que até hoje existe
Na boca triste de algum sofredor

Como é que tem alguém
Que ainda tem coragem de dizer
Que os meus versos não contêm mensagem
São palavras frias, sem nenhum valor

Ó, Deus, será que o Senhor não está vendo isto!?
Então, por que é que o Senhor mandou Cristo
Aqui na Terra para semear o Amor?
Se quando se tem alguém que ama de verdade
Serve de riso para a Humanidade
É um covarde, um fraco, um sonhador?

Se é que hoje tudo está tão diferente
Por que é que não deixa eu mostrar a esta gente
Que ainda existe o verdadeiro Amor?

Faça ela voltar de novo para o meu lado
Eu me sujeito a ser sacrificado
Salve o seu mundo com a minha dor

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Se você me dissesse (poema que virou canção)


Nonada,
Vou ficar na angústica clássica
Me contentar
Me contentar com os apreços de você
Os apreços de você
Seu sorriso bonito

Se você me dissesse para onde vai
E se vai voltar depois
Seria um dia na minha vida
Seria esse dia


Nonada

Se viver é perigoso
Por que Deus te fez assim tão bela
Custava ter te feito pra mim
Nesta encarnação

Se você me dissesse
Para onde vai
E se vai voltar depois
Ser bem mais quente um dia
Na minha vida
Ou ser toda num só dia...

Esta letra refere-se a uma composição musical, datada da década de 2000 (data incerta esquecida), que irei postar em vídeo, dentro de alguns dias.

Sensível (poema que virou canção)

Conheço um pouco deste sensível
Definitivamente
Sensibilíssimo
Aprecio às vezes este sensível 
E sei que por isso mereço às vezes
O imerecível

Como a mulher incrível
E em seus lábios beijos que nunca tive

Como a comida e o pomo do vosso mercado
Fico marcado por essa comida
Sensibilidade penetrante há
Em ver
A rua
Codificando o labirinto
E eu não
Querendo
E você nem ligando
Que isso aconteça

Sempre nessa sua infelicidade atroz
E nesse seu encanto canil

Estou sempre acordado
Quando
Preciso
É dormir
É dormir
Dormir





Esta letra refere-se a uma composição musical, datada da década de 2000 (data exata perdida), que irei postar em vídeo, dentro de alguns dias.

Todos os beijos quiçá (poema que virou canção)



Todos os beijos quiçá
E as palavras
Palavras
Os mais de uns momentos felizes
Hum, raízes

Narizes tocados
Suspiros abafados
Não
Não
Eu estou lúcido
Plácido
Meio tímido
Mas lúcido


Amor...
Eu gosto tanto de você
Eu nunca mais vou te esquecer
Repito o quanto desejar

Amor, Amor, Amor
Tão bom é estar junto de ti
Sentir teu corpo e tudo enfim
Você é pra mim meu ideal
E eu quero sempre assim

Para te ter eu fiz de tudo
Lutei, insisti, larguei meu mundo
Mas vejo agora que valeu
Você está comigo
E estará sempre ao meu lado
Pois só fiquei desamparado
Enquanto eu não te encontrei.

Amor, Amor, Amor


Esta letra refere-se a uma composição musical, datada de provavelmente meados dos anos 2000, que irei postar em vídeo, dentro de alguns dias.




sexta-feira, 8 de abril de 2016

Sou da Princesa

Vim do caminho da Feira,
Eu sou tombado do Tomba...
Da tonga da mironga
Do cabuletê

Sou de sorriso fácil
Rio de qualquer besteira
Mas se você der bobeira
Te prendo com meu laço

A vida fez com que eu fosse
Mudando, mudando sempre de lugar
Como quem vai mastigando
Aprendendo, provando tudo sem pensar
Dependendo da crença e da paciencia
De quem vai ensinar
Preparar meu futuro
Me sentir seguro, poder caminhar...

Luiz Caldas (músico baiano altamente produtivo. Mas infelizmente poucos baianos parecem saber disso. Acham que ele só fundou o "axé music")

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A presença de Deus na MPB

De onde menos se espera, aí é que sai. Justamente um ditado tão usado pela classe evangélica (para se referir a pessoas que venceram, apesar das adversidades) é que vai nos servir para preencher a primeira postagem de uma série que o Mais Blogueiro está chamando de "A presença de Deus na MPB" ou sua variante "A presença de Jesus na MPB".

Leia o segundo artigo sobre Raul Seixas aqui.

O cantor Marcos Almeida vem realizando um belo trabalho em seu blog "Nossa Brasilidade" também nessa linha de pensamento, chamado "Espiritualidade na MPB", com artigos esporádicos em que explora, entre outras nuances, esse lado da música. Então, vale muito a pena contribuir com a causa, que pode nos levar à conscientização de que não se deve separar tanto "música sacra/gospel/evangélica" de "música secular". O que existe, na verdade, é "Música" e ponto final. Letra é uma questão à parte, que, se quiserem, pode ser discutida. Mas Música, acredito que não.

Quando se trata de música popular brasileira, especialmente as que envolvem letras, eu prefiro dar mais atenção àquelas que não estão ou estiveram na mídia. Das famosas de Raul, para os propósitos desta série, poucas seriam aproveitadas. Mas basta visitarmos um pedaço da produção musical do "maluco beleza" (se estivesse vivo, teria hoje 71 anos) que notamos em diversos momentos a presença da temática divina.

O exemplo que se segue, em letra, áudio e vídeo, é da canção "Ê meu pai".**
 Ê, meu pai
Olha teu filho meu pai


Ê, meu pai, olha teu filho meu pai refrão
Ê, meu pai, ajuda o filho meu pai

Quando eu cair no chão segura a minha mão
Me ajuda a levantar para lutar

Refrão

Se o medo da loucura nessa estrada escura
Me afastar da luz que me conduz

Refrão

Se eu me sentir sozinho ou sair do caminho
E a dor vier de noite me assustar

** Faz-se necessário deixar claro que isto é uma interpretação livre do autor do blog, uma vez que é impossível detectar com exatidão qual foi a intenção do letrista/compositor ao produzir a peça musical.