domingo, 11 de novembro de 2012

Síndrome da velhice precoce ou é esta geração que está perdida?

*Gosto de ouvir músicas que certas pessoas classificam precipitadamente como "antigas", do tipo Luiz de Carvalho, Oséias de Paula, Armando Filho, algumas três ou quatro letras cristãs que Lindomar Castilho cantou, as músicas velhas do Catedral, Sérgio Lopes (as mais velhas), etc, etc, a lista é grande. Por exemplo, para mim, Luiz de Carvalho não deixa nada a deseja, em termos de voz e talento, a cantor novo ou velho algum. Se eu fosse buscar uma comparação no mundo secular, talvez ele se assemelhe a um Vicente Celestino, ou a um Agnaldo Rayol, mas não gosto desse tipo de comparação, melhor ouvi-lo e sentir nele a diferença. Outro exemplo, Kim (do Catedral) não deixa nada a desejar, se alguém estivesse querendo o comparar com Renato Russo. Assim, quando algumas pessoas ouvem as "coisas" que eu costumo ouvir me sinto como um subversivo no tempo da ditadura militar.


Todos esses que citei de início são ligados ao mundo evangélico. Mas antes - quando não era cristão/evangélico/crente também ouvia cantores "antigos" (como taxavam alguns acerca dos nomes que ouvia: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Amado Batista e tantos outros) e me acusavam (alguns mais achegados) que eu era um "antiquado", ou velho precoce. Não vou nem dizer nada sobre os meus gostos literários, porque é capaz de estar ainda mais antiquado... 

Também gosto da música popularmente chamada de "clássica", aquela que basicamente não ouvimos porque alguém escreveu uma letra, mas pela partitura e o "conjunto sonoro" que é produzido. Todo esse gosto me foi estimulado, não nasceu à toa, por isso, eu tenho certeza de que em qualquer geração deveria ser lei todo mundo passar por uma educação musical

Eu não passei por essa educação musica, pelo menos institucionalmente, mas contornei um pouco a situação, com iniciativas próprias, isoladas. Primeiro, tive a felicidade de conhecer um livro no final da minha adolescência que mudou minha opinião sobre música erudita: o livro se chamava "Como ouvir e entender música", o autor era Aaron Copland (acervo da Biblioteca Municipal de Feira de Santana, portanto, era emprestado). Em segundo lugar, motivado pelo livro, busquei me inscrever, nessa mesma época em pequenos cursos de iniciação musical, com flauta doce. Tudo começou ali, mas só vai acabar na minha morte. 

Música erudita, instrumental, ópera, clássicos cantados por grandes tenores, enfim, parece que estou falando grego para esta geração que se habituou a chamar pagode baiano de "música", de "estilo musical preferencial" (será que alguns dessa geração algum dia serão despertados para outros tipos de música?). 

Hoje existe uma geração mais interessada em espalhar vídeos com coreografias sensualistas de um pagode da moda, do que em ouvir alguma coisa que realmente preste, ou pelo menos venha a somar na sua vida cultural (não digo nem vida religiosa, para não afrontar muito essa gente). Uma geração que tem no hip hop (seja gospel ou não) a certeza de que seu gosto musical está completamente apurado, chegando a dizer que aquilo é a sua "filosofia de vida" (não que o hip hop ou o tal do pagode não prestem, porque não posso mudar gostos, mas eles não são a única coisa que presta em termos musicais). 

Uma juventude que fica mais feliz em divulgar nas redes sociais um vídeo exibindo uma confusão entre alunos irresponsáveis do que alguma atividade cultural que a mesma escola promove rotineiramente. Uma juventude que tem na escola pública o local certo para se fazer muitas coisas, menos estudar. Sou pai, logo, não estou falando de coisas ficcionais - é a realidade. 

Até bem pouco tempo atrás, nos anos 90, eu ainda tive o privilégio de respeitar meus professores pelo que eles eram, não pelo que a direção da escola me obrigava a fazer. Nessa mesma época, tão recente, já cheguei a ter uma espécie de depressão por achar difícil um trabalho de artes que precisava entregar até o final do ano letivo, ao ponto de ir pra igreja pedir a Deus que me ajudasse a fazer aquele trabalho (e Ele me ouviu, o trabalho saiu, ficou massa, e passei!). Hoje, não consigo sentir o mínimo de garra nos alunos de escola pública, mas sei que existem exceções e sei também que em algumas instituições públicas e privadas existem grandes esforços para as coisas serem diferentes. 

Então, por essas e por outras eu prefiro ser antigo e rabujento como sou. Eu prefiro assim.







*A vantagem de se ter um blog independente é que não se precisa seguir "regras editoriais". Nós criamos as nossas, por isso criei outro marcador para este blog, chamado "comportamento". 

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