Há anos que sofro com um dilema e tanto: dar ou não dar a descarga? Eis a questão. Não são raras as vezes em que tomo um grande pito da minha "patroa" ou indiretas em outros ambientes sociais por causa disso (porque as pessoas nunca querem ser mais sujas do que as outras, uma vez que fazemos parte da cultura do que é limpo, pelo menos na aparência).
O fato é que todas as donas de casas do mundo parecem obrigar os habitantes dos banheiros a dar a descarga todas as vezes que o vaso sanitário for usado. Eu considero isso um ultraje e tanto! Fico revoltado quando uma pessoa vai ao banheiro e, apesar de não ter deixado lá sequer 20 ml de urina, se sente na obrigação imposta pela sociedade - ou acha isso uma coisa justíssima - de despejar 15 a 20 litros de água para não deixar odor no recinto. Por que as fabricantes de produtos de limpeza não encontram logo uma solução para combater esse péssimo hábito social??!!?? Porque eu tenho sido completamente infeliz na educação dos meus filhos, quando lhes digo que isso é um suicídio lento da raça humana???!!!?
Não é de hoje que considero o vaso sanitário um dos maiores inimigos da economia de água no mundo. Sei que soluções menos gastadoras estão no surgindo, mas no Brasil a grande realidade que se vê é aquele tradicional vaso sanitário com descarga cheia que precisa ser utilizada toda vez que uma pessoa dê uma simples mijada.
Falar de mijo e bosta não atrai a ninguém, porque infelizmente somos pudicos para alguns assuntos. Ninguém escreve sobre arrotos, peidos, cagadas (pelo menos as literais) e mijadas da vida. Ninguém quer ficar do lado dos que pensam diferente, porque vai acusar isso de "imundície". Por exemplo, ninguém parece ficar do lado de quem pensa ser o banho uma tarefa básica da vida que não precisa levar meia hora ou mais para acontecer todos os dias - ou até mesmo várias vezes por dia! Qual a necessidade de um homem que é homem passar meia hora no banheiro com o pretexto de estar tomando banho?
Aquela simulação do casal gastador de água do Fantástico (exibida no domingo dia 12/07/2015) só assustou (revoltou/causou comoção) aos transeuntes porque há meses foi dado o sinal vermelho sobre a carência de água em alguns Estados do Brasil. Queria ter visto aquela mesma cena em um outro contexto. Eu, por exemplo, que moro há poucos metros de um "pedaço" do Rio São Francisco, ainda não vi ninguém se alarmar por causa de uma mangueirinha boba gastadeira, ou por causa de um vaso sanitário que precisa ser desinfetado a cada mijada boba de 15 ml...
Com isso, não quero dizer que sou totalmente contrário ao limpar o vaso sanitário a cada micção, pois reconheço que a urina humana tem o incrível dom de deixar o ambiente pessimamente odorizado. Na verdade, eu vivo torcendo é para que algum empresário ou inventor acabe com essa lógica do gastar de água e crie alguma tecnologia capaz de combater isso. Agora, no tocante aos dejetos humanos sólidos (as nossas fezes), essas aí ainda precisarão mesmo contar com a boa e velha descarga de água, pois não tem jeito para elas.
Acho que depois de bosta de gato e de cachorro, a de gente é a pior coisa que existe na face da terra. Tenho um gatinho jovem que ainda vai me matar de ódio, porque vez por outra ele costuma fazer os seus serviços sujos pela casa. Mas entre limpar bosta de gente e limpar a de um gato, eu fico com a deste último.
Meu dilema não está resolvido simplesmente por conta deste desabafo. Sei que - enquanto água com relativa fartura houver no mundo - ainda terei que me debater todas as vezes em que for ao banheiro realizar a mais elementar das tarefas fisiológicas humanas (depois de comer e beber, é claro). Ou todas as vezes que levar um pito educado ou descomposto de alguém por ter "esquecido" de dar a descarga.
Só quero dizer às pessoas que eu, talvez safadamente, nunca me esqueço de dar a descarga quando vou ao banheiro. Tudo o que eu faço ali dentro é proposital. É onde eu exerço o meu inútil gesto de protesto, totalmente incompreendido pelo mundo...
Por isso que meu lema é: "não dê a descarga após urinar. Espere alguma bosta chegar".
E, cedo ou tarde, ela vem.