Ao recrutar profissional freelancer para produzir
textos de blogs, os primeiros que descarto são os que possuem habilidades "SEO". Sim, esses que dizem "otimizar" o texto com aquela riqueza
de detalhes, como a palavra-chave no parágrafo certo, o uso dessa ou
daquela imagem, a orientação para a busca do usuário, os negritos...
Tem gente que estranha, mas considero sempre iniciar um blog meio longe dessas
coisas de "SEO". Pode ser um grande preconceito, mas temo que chegue um dia em que os redatores só escrevam pensando
no que os buscadores vão "achar". Talvez a pergunta devesse ser modificada: em vez de "onde está o texto bom para o Google?" deveria se indagar: "onde está aquele texto bem escrito,
original, criativo, personalizado sem deixar de ser abrangente?" "Por que
tanta gente acha que texto para web tem que ter essas características
SEO para ser aceito"?
Se fosse para defender um partido, diria: sou do "PFOT" - Partido pelo Fim da
Otimização do Texto para a Web. Claro que pode ser um caso isolado de um cliente frustrado, mas o fato é que todas as encomendas de textos que já fiz contendo
essa tal filosofia maldita de trabalho com SEO foram textos que praticamente tive
que reescrever quase na íntegra - não pode me achar o GRANDE corretor, mas simplesmente porque os textos sequer tocavam na pauta que eu pretendia que tocassem. Esses textos tocam no termo central
da pauta, tocam nos detalhes que a gente descreve para embasar a pauta, mas não tocam no que interessa para o momento em que solicitei-o. Cadê aquele conteúdo
significativo para o leitor, que trouxesse pelo menos uma coisa menos óbvia e menos encheção de linguiça para não chegar a lugar algum?
Nada. Apenas chavões, chavões, com ar de
novidade. Isso é o que mais me impressiona nesses trabalhos freelancer...
Por exemplo, já
solicitei textos, os quais, devido à riqueza de detalhes que dei, fiquei
apreensivo, tamanha a expectativa de que os redatores entregariam coisa
boa, com pelo menos uns 2% de novidade. Porém, quando me enviaram o resultado (até mesmo de empresas
consideradas experts no mercado de redação), eu me decepcionei com a falta de criatividade generalizada.
Sim, reconheço que possa ter sido a filosofia "licitatória" que a gente
muitas vezes é forçado a adotar: recrutar primeiro aqueles serviços que
caibam no nosso bolso, aquele precinho que parece uma pechincha. Por outro lado, avaliando a viabilidade econômica de muitos projetos, como é que o gestor com orçamento
limitado pode optar por um único texto caro (alardeado como excelente), quando encontra tanta oferta de 10
textos ao preço daquele um?
Dessa forma, tanto esses
profissionais quanto os contratantes (clientes) se encontram numa
encruzilhada: são prestadores de serviços textuais, em sua maioria
jornalistas, professores de português, letrados, pedagogos, filósofos,
administradores, donos de blogs ou sites, publicitários, entre outros,
tendo que "rebolar" para conseguir ser escolhidos para uma missão ou
para conseguir audiência. Muitas vezes, o prestador dos serviços não
sabe direito nem a que se refere a missão, nunca redigiu texto algum
sobre o conteúdo demandado. Mas se arvora a fechar o negócio, antes
mesmo que o concorrente o faça, nesse disputado mercado freelancer, onde
até os donos de plataformas de recrutamento precisam lucrar. Importa o
trabalho conseguido, independente do nicho. Na hora H, um pouco de
sorte, criatividade e Google nos ajudará (será?). O contratante, por sua
vez, muitas vezes compra pelo preço que cabe em seu apertado orçamento e
vai jogando em sua página, às vezes sem reflexão alguma (eu mesmo já fiz isso).
Como
também prestador de serviços de texto, acredito que nem sempre dá para
agir dessa forma. Pois, se assim for, o resultado será uma classe de
clientes insatisfeitos, que, por não terem tempo, disponibilidade ou
interesse em produzir bons conteúdos de próprio punho, acabam publicando
o que compram, porque precisam preencher o espaço em sua página e
porque o preço foi em conta. Eu prefiro tentar escrever e quando não der para fazer, reconhecer minha incapacidade e recusar um trabalho.
Não quero destruir a imagem do "SEO de
textos", pois sei que esses trabalhadores têm sua utilidade, o seu valor. Nem quero
destruir a imagem dos clientes que preferem estes, pois sei que num país
como o nosso precisamos pensar duas vezes antes de investir tanto para
tão pouco resultado.
Porém, creio eu que deva-se encontrar um meio termo
para a questão, sob pena de tudo o que se encontrar na internet para ser
lido não passar de uma coisa "amorfa", construída apenas para garantir
as buscas que existem. É preciso que passemos a pensar um pouco no
texto, no valor autoral, na inventividade do sujeito escritor, e não apenas nas análises das buscas, nos dados estatísticos do Google, por mais valiosos que sejam. Se
publicamos apenas o que se busca, onde ficará a inovação, o pensamento
próprio, ou talvez até o pensamento crítico? Nem sempre dá para se ter
essas coisas juntas, mas quem sabe às vezes?
Precisamos
de conteúdos para alimentar nossos projetos. Mas quantos projetos hoje
em dia dá mesmo gosto de ser apreciado, até mesmo por seus
idealizadores?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fique à vontade para comentar