sexta-feira, 3 de abril de 2015

Coisa de passageiro

No universo de um ônibus coletivo é que você percebe o poder da solidão.  Cada um de nós, passageiros, exercendo o nosso atributo miserável de nossa própria individualidade,  da forma mais ou menos civilizada possível. Há ônibus em que o motorista ou o cobrador têm a sabedoria de ligar o som para ouvir músicas. Acho uma boa, independente do tipo de música, pois ela nos permite ter acesso a essa válvula de escape tão necessária hoje, para desfrutarmos o prazer de sentir algum tipo de epifania nesta selva urbana.
As pessoas com seus olhares, fazendo gestos de que nunca estiveram olhando umas para as outras;  os nossos gestos oriundos de uma educação metida a polidez; e nossas idiossincrasias presas entre as frestas, por onde conseguimos talvez respirar melhor...
Um ônibus chega ao ponto, abre-se a porta dos fundos, as pessoas descem, de repente a cobradora dá sinal para o motorista fechar o fundo, só que ainda tinha uma mulher descendo. A porta se fecha e a mulher fica com um braço preso entre as duas bandas da porta.  O motorista reabre o acesso,  a mulher desce calmamente,  mas aí ela se dirige à porta da frente e diz:
- Motorista, você é um pai no c...!!!!
E ela sai soltando mais descompostura, muito brava.
Isso é uma cena comum nesse cotidiano conturbado de pegar ônibus coletivo. No meio público,  aqueles que são dados à descompostura verbal soltam ainda mais os seus cachorros. Já outras, mais dadas à expressão passiva e mansa como eu, ponderam as coisas da vida, em pensamentos, em frases sintéticas sobre a condição humana ou mesmo em uma crônica como esta.
Para encerrar está conversa, acho que uma das palavras mais acertadas do português para se referir a nós que pegamos transporte coletivo é "passageiro". A gente pega a condução,  fica naquele aperto,  às vezes chega uma catarse pela música que toca, e pronto: tudo passa em minutos.  Era só uma coisa de passageiro.  Foi só uma coisa passageira...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Evolução tecnológica

Sou daqueles que ainda fica impressionado com a evolução tecnológica da vida do brasileiro médio. Há uma década e meia passada não tínhamos acesso a quase nada. Meu primeiro contato com o computador com internet se deu em 1997, mas somente consegui ter meu primeiro computador pessoal há quase cinco anos: lembro como se fosse ontem,  uma tarde quente do mês de maio de 2010, os correios vieram entregar a encomenda. Foi uma felicidade aquela aquisição do PC, que é de uma marca que poucos até hoje dão valor: um "Positivo Sim+", que foi comprado por três razões que na época me atraíram: o Hd de 750GB, a RAM de 4GB e o preço,  uma pechincha de quase mil reais. Até hoje a máquina prossegue em uso, e aviso que não tenho a menor pretensão de me desfazer dela.

De lá para cá, vieram mais um PC melhorado, um notebook,  um Tablet e uns smartphones.  Ou seja,  o que antes escasseava, hoje superabunda em opções.  Tem dias de encontrar-me indeciso sobre qual dispositivo usar. Diferentemente de muitos apocalípticos e até de integrados, com as máquinas acredito evoluir em produtividade: por exemplo, enquanto escrevia este artigo diretamente do App do Blogger no smartphone, pesquisei alguma coisa no Tablet e ainda estudei alguns assuntos no bom e velho caderno (essa tecnologia ainda maravilhosa). Tudo isso sem sair da cama.

Um dos lados ruins disso tudo é o fenômeno mais antigo do mundo, que com certeza não nasceu por causa da tecnologia,  e que atende pelo nome de vício. Contra ele, a estratégia que adoto é usar essas tecnologias para o que eu considere proveitoso para minha vida, e isso inclui fazer coisas do tipo:

- Fugir daquilo que não me convém, como por exemplo atacar as pessoas,  ou despejar nelas minha raiva íntima circunstancial;

- Buscar um entretenimento que não fira meus princípios morais e intelectuais (e isso inclui fugir das tentações);

- Perseguir o conhecimento salutar;

- Usar a tecnologia de uma maneira que permita prejudicar o mínimo possível o meu próximo; e

- Não me esquecer de que a vida real precede o virtual, e é a mais importante.

Um outro lado possivelmente ruim é que, em diversos momentos, é tamanha a dispersão de tarefas às quais me submeto a empreender,  que muitas vezes tenho dúvidas sérias se estaria emburrecendo ou aprendendo...