As pessoas com seus olhares, fazendo gestos de que nunca estiveram olhando umas para as outras; os nossos gestos oriundos de uma educação metida a polidez; e nossas idiossincrasias presas entre as frestas, por onde conseguimos talvez respirar melhor...
Um ônibus chega ao ponto, abre-se a porta dos fundos, as pessoas descem, de repente a cobradora dá sinal para o motorista fechar o fundo, só que ainda tinha uma mulher descendo. A porta se fecha e a mulher fica com um braço preso entre as duas bandas da porta. O motorista reabre o acesso, a mulher desce calmamente, mas aí ela se dirige à porta da frente e diz:
- Motorista, você é um pai no c...!!!!
Isso é uma cena comum nesse cotidiano conturbado de pegar ônibus coletivo. No meio público, aqueles que são dados à descompostura verbal soltam ainda mais os seus cachorros. Já outras, mais dadas à expressão passiva e mansa como eu, ponderam as coisas da vida, em pensamentos, em frases sintéticas sobre a condição humana ou mesmo em uma crônica como esta.
Para encerrar está conversa, acho que uma das palavras mais acertadas do português para se referir a nós que pegamos transporte coletivo é "passageiro". A gente pega a condução, fica naquele aperto, às vezes chega uma catarse pela música que toca, e pronto: tudo passa em minutos. Era só uma coisa de passageiro. Foi só uma coisa passageira...