quinta-feira, 27 de março de 2014

O dom de se calar

Dias atrás, senti a vontade de pedir a Deus que Ele me livrasse e guardasse de ter opinião. Volto ao tema, pois estou sentindo novamente a necessidade de calar. Não vem adiantando muita coisa falar, falar, para depois as pessoas condenarem aquilo que pensamos delas. Ou seja, já está soando agressivo demais a gente postar o que pensa, quando na verdade não tem nada disso.

Descobri que as pessoas, em tempos de internet, se ferem com mais facilidade do que antes, pois parecem estar sofrendo da que eu chamo de Síndrome da Sensibilidade nas Redes Sociais (SSRS). Basta uma palavra junta numa frase escrita para acharem que aquilo foi para elas. Às vezes, essas palavras podem até ter sido para elas, às vezes não. Mas o interessante não é nem isso, e sim o tanto de amplidão que a nossa "sensibilidade auditiva" vem conquistando nos últimos anos da geração Y e também da geração Z (aqueles que não nasceram com a internet, mas estão aprendendo a se virar com ela e interagir).

Eu não sabia - e até hoje nem sei, mas está me parecendo - que preciso sempre dizer aquilo que não incomoda. Ninguém pode incomodar ninguém neste mundo! Imagine se 10 pessoas conhecidas fossem colocadas a cada dia dentro do Jogo da Verdade (aquele que cada participante revela o que pensa a respeito do outro)? Isso já está acontecendo nas redes sociais, mas é tão velado ainda, que soa da forma que eu mencionei acima: todo mundo se fere com o que foi postado por todo mundo.

Nunca fui muito fã de passar mais de 15 minutos no Facebook, ou mesmo no defunto Orkut (por aí já dá para imaginar a minha assiduidade nas outras redes), mas não me lembro de quantas vezes já postei uma afirmação, que, horas depois, seria logo apagada por mim. Em algumas postagens dessas, minha única motivação foi a revolta, a indignação com alguma coisa que me fizeram. Em outras vezes, fiquei com receio do que as pessoas poderiam pensar, já que a maioria não está acostumada, por exemplo, com a leitura de uma frase minimamente mais reflexiva do que a grande massa de besteiras que lemos todos os dias.

Por falar nisso, outro dia postaram algo assim (em uma linguagem totalmente divergente do padrão dito "aceitável" do português brasileiro):

"tem gente que pensa que engana os outros só porque sabe postar palavras bonitas". 

Eu tomei isso logo para mim, porque de certa forma, também me sinto contaminado pela Síndrome da Sensibilidade nas Redes Sociais (SSRS). Ou seja, já tem até gente que pensa que o modo como algumas pessoas escreve significa pedantismo, exibição de "cultura", vaidade, superioridade.

Concluindo, reafirmo a oração: Deus me livre e guarde de emitir opinião e me conceda o dom de saber a hora de calar.


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