sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Você conhece o crente virtual?

Origem da imagem: Blog do Frei Maffei

Quantas bençãos você já recebeu hoje repassando correntes de oração? 

Há quem pense que uma oração, vindo ela de quem for, merece muito ser lida porque todos gostam de mensagens de paz e prosperidade. Você concorda? Certa vez discuti com uma colega sobre essas correntes de “e-mails de prece” que recebemos quase que diariamente. Disse a ela que não gostava de ler tais orações e não perdia muito tempo as lendo, sem falar que não tenho o hábito de reencaminhar quase coisa alguma para os outros, salvo em alguns casos de certa utilidade pública. Ela me achou severo demais, pois considerava justamente o que disse no começo: qualquer mensagem de ânimo, “para cima” e promissora merece respeito, tempo para lê-las e, de certa forma,  trará bençãos, sim.

Não nego que sejam pessoas às vezes bem intencionadas, querendo agradar à sua rede de contatos, enfim, edificá-las, fazê-las melhores e mais humanas, por conseguinte mais voltadas para Deus, independente de qual religião professe (?).  Mas vamos aos fatos. Recebi este viral no momento em que escrevo este post. Se você chegar até o final da mensagem, parabéns, independente de qualquer outra questão detectada, de natureza gramatical. Se preferir, pule para o final do post:

"Existem pessoas que amam e dizem que gostam.    
 Mentalize e ore. É uma oração curtinha, mas, muito poderosa, se você acreditar!
1º lugar em sua vida 
Quando Deus tira algo de seu alcance, Ele não está punindo-o, mas apenas abrindo suas mãos para receber algo melhor. Concentre-se nesta frase: "A vontade de Deus nunca irá levá-lo aonde a Graça de Deus não irá protegê-lo "
Alguma coisa boa vai acontecer com você hoje, algo que você tem esperado  ouvir..
Por favor, não quebre! Apenas 27 palavras.
Deus, nosso Pai, CAMINHE pela minha casa e leve embora todas as minhas preocupações e doenças, e POR FAVOR, vigia e cura a minha família em nome de Jesus ... AMEM
Esta oração é muito poderosa. Passe essa oração para 12 pessoas. Uma benção está vindo para você na forma de um novo emprego, uma casa, o casamento, saúde ou financeiramente. Não quebre ou faça perguntas. Este é um teste. Será que Deus está em primeiro lugar na sua vida? Se assim for, pare o que estiver fazendo e envie a outras pessoas. Observe o que ele faz.


Extraída de: Submarino
Esse e-mail pode ser usado para fazermos uma "superinterpretação" (Umberto Eco) do que anda acontecendo em algumas esferas da nossa cultura digital: o surgimento do neo-cristianismo cibernético, para ficar numa expressão que me ocorre agora. Estamos na era do crente/cristão virtual, aquele tipo de pessoa que na vida real dá mal testemunho de cristão em todo o canto (no comércio, na família, no amor ao próximo, na vaidade pessoal, às vezes até na igreja local e nas madrugadas online, quando poderia estar fazendo pelo menos uma oração de verdade com duração de 10 minutos), mas que na internet é o maior crente do mundo.
Tudo são flores na web, vindo de quem for! Toda oração é bem vinda, vinda do maior ateu ou do maior satanista da terra!!!
Como sempre e como tudo na vida (virtual ou real), não dá para generalizar. Mas você já percebeu que o cristianismo não caminha pari passu com o misticismo? Você já reparou que nem Cristo nem a Bíblia ensinam a fazer simpatias, do tipo “Esta oração é muito poderosa. Passe essa oração para 12 pessoas. Uma benção está vindo para você na forma de um novo emprego, uma casa, o casamento, saúde ou financeiramente. Não quebre ou faça perguntas”? Então por que os “crentes” virtuais gostam desses virais? Será que essas simpatias digitais querem botar na cabeça de muita gente a mesma superstição que muitos têm quando hesitam em passar por baixo de uma escada, ou segurar um gato preto numa sexta-feira 13?
Se quisermos fazer esse tipo de proselitismo em nossas redes de contatos (as sociais, então!...) teremos que ter mais cuidado. A heterogeneidade dessas redes cada vez mais exige autenticidade da gente.



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A Pedra Angular continua na Catedral

Resenha sobre o novo CD da banda Catedral, "Pedra Angular"

 
Imagem: Line Records Shopping
Ouvia a banda Catedral mesmo antes de me converter. Lógico, influências todo mundo tem e os jovens, ainda mais. Ouvi também muito Legião Urbana e, mais adiante, Los Hermanos, sem falar em todo o resto da MPB. Mas o fato é que essas três bandas (Catedral, Legião e LH) acabaram se tornando uma espécie de referencial nacional do pop rock para gente que tinha interesse no estilo. Por razões óbvias (...) deixei de acompanhar tanto Legião, quanto os Hermanos e os MPbistas, e permaneci acompanhando a Catedral - principalmente os primeiros trabalhos, mais ligados ao “nicho” a que pertenço, claro que sem estacionar no tempo. De lá para cá, vieram “Para todo mundo”, “15º Andar”, “Atemporal”, “A Resposta de 1 desejo” entre outros mais... Continuei acompanhando toda essa espécie de linha evolutiva ou “metamorfose” como preferiram dizer alguns. De toda a evolução, uma certeza: a linha de pensamento expressa pela banda é a mesma, do primeiro trabalho ao último, o que se alterou foram as “formas do dizer”, como dizem os teóricos da literatura secular. Muita gente interpretou a guinada de maneira errada e já conhecemos todo o blábláblá da crítica, que acabou não chegando em lugar algum, porque venceu a coerência, as raízes e o fato deles permanecerem “onde o amor reinar”.
Fui "apresentado" à banda Catedral ainda no Ensino Médio, e não foi através de algum album especfico: tive dois colegas que entoavam as baladas da banda ao violão nos intervalos das aulas. Foi dessa maneira  que ouvi pela primeira vez  “O silêncio” e  “Quando o verão chegar”. A primeira audição original da banda se deu quando comprei nos anos 90 um cassete de “A Revolução”, um dos seus melhores álbuns. De lá para cá, venho acompanhando (já vieram aqui em Feira, mas ainda não fui aos shows).
Engana-se quem imagine que parti para Catedral por ser uma opção meio que de linha "cristã" para o gosto musical de gente crente que gosta de pop/rock (gênero em que estamos muito bem representados, vide Novo Som, PG, Kleber Lucas, André Valadão, etc, etc...). Muito pelo contrário: a banda sempre foi bem vinda em todos os meios, digamos, sócio-culturais. Catedral alcançou, desde o começo, pessoas não necessariamente “evangélicas”. Dito de outra forma: a banda possui um traço de universalidade que serve bem para demonstrar que pessoas diferentes sabem apreciar mensagens que as tornem seres humanos melhores.
Esse meu gosto se acentuou depois da morte do Renato Russo. Mas a verdade é que nunca fui com a cara  e os hábitos do Russo, além do que nunca tive interesse em seguir “artistas” pura e simplesmente, por mais beletristas que fossem.
Para encerrar o post com a prometida resenha de “Pedra Angular”, lançado recentemente, posso afirmar que o CD comprova que a banda continua a mesma, em sua essência. Continuam arraigadas na banda as mesmas bandeiras que sempre defenderam: o amor (tanto o relativo quanto o eterno), a esperança (“Tudo pode mudar”), o combate ao mal e às injustiças, em todas as suas formas, a menção a Deus - o Pai e o Filho (“Quem me dera”), etc.
Neste CD, destaco “Blecaute”, onde o vocalista, à sua maneira, repudia tudo aquilo que pessoas preconceituosas têm pensado sobre a banda. Por outro lado, entraram algumas regravações primorosas, nas quais destaco o “Pai nosso”, oração – modelo que na voz de Kim faz cair por terra tudo aquilo que possa por essa coerência de que falei antes em xeque. Críticas quando à mudança de perspectiva cristã não são bem vindas à banda Catedral. Este blog não compactua com elas.
Parafraseando as palavras do próprio Kim, numa de suas entrevistas, “precisamos passar a ser mais cristãos e menos evangélicos”. “Pedra Angular” dá esse recado.