quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Bíblia Digital

Marco Feliciano inaugurou a era das pregações com Bíblia digital. O nome correto do aparelho é “Bíblia Sagrada Digital” que, além de outros recursos, tem estes: “busca por livro, capitulo e versículo, função marcar, função salve suas leituras para consultas futuras, horários local e mundial”, calculadora e muito mais. Só não tem ainda conexão com a Internet, pode ser que já estejam pensando nisso. Custa em torno de 200 reais. Em 2009, num dos maiores congressos de missões do Brasil, ele introduziu na tribuna o aparelho, que não deve pesar mais de meio quilo, compacto, cabe até no bolso. Tecnologia à parte, a mensagem foi trabalhada pelo Espírito Santo. Feliciano não foi o único a modernizar os púlpitos pentecostais, pois Marcos Gregório, acho que do ministério Apascentar (vi na tv outro dia) já usa notebook nas pregações. O interessante foi que nas vezes em que o vi pregando com o computador,  pr. Gregório parecia consultar com muito rigor os escritos (os digitados) no púlpito, sem prestar muita atenção na platéia, onde com certeza deveria ter alguém que se incomodava com isso tanto quanto eu fiquei ao assistir de casa. Não estou julgando-o por nada, sua mensagem foi trabalhada, tem seu mérito.

A tecnologia parece estar mesmo chegando aos meios evangélicos. A Bíblia digital de Marco Feliciano abre espaço para empreendimentos diversos no setor, mas não é pioneira de nada, a não ser no quesito “equipamentos para pregadores e oradores”. Marco Feliciano, antes, desbravou o mundo da moda para o meio evangélico, ao criar – dizem - a sua grife. No seu site também tem lá um “GMF consórcios", que está na cara que deve ser "Grupo Marco Feliciano consórcios" ou algo muito similar a isso, do setor imobiliário. Não sei qual a participação dele nesses empreendimentos, nem me interessa, pois não estou o condenando por nada, ele está trabalhando, como todo homem que se preze.

Prosseguindo nosso passeio sobre tecnologias digitais no meio evangélico, podemos afirmar também que sites da Internet já se tornaram comuns, porque muito obreiro tem usado a rede mundial para auxiliar no ministério. Entretanto, algumas adaptações para o meio cristão soam estranhas ainda para os meus ouvidos neófitos. Algumas dessas adaptações beiram ao ridículo que só Deus para ter misericórdia: balada evangélica, alguns chats de "namoro evangélico" e o que eu nem tenho conhecimento ainda, mas que com certeza em algum lugar já estão fazendo de adaptação.

Quando essas coisas contribuem para o bem daqueles que amam ao Senhor, que sejam bem vindas! Pode ser o caso da Bíblia Digital, ainda que soe nesse começo de implantação um tanto o quanto pedante por demais, seja ela usada por Marco Feliciano ou por qualquer outro pregador. Pode ser o caso do chat, mas precisaria conhecer mais a fundo o sistema, no que também não estou interessado neste momento. Talvez seja só uma questão de acomodação das massas, levará um tempo para absorvermos tudo isso. O problema é quando essas inovações mascararam intenções escabrosas de desvio de conduta cristã, algo totalmente incompatível com o que está escrito na Bíblia. Com isso, fique bem claro, não estou atribuindo à obra missionária e empresarial dos pregadores nenhum caráter pejorativo ou maligno. Só estou atentando para o fato de que nem tudo o que absorvemos como inovador se torna necessariamente edificante do ponto de vista espiritual. Nessa seara, como em tudo na vida cristã, tem um papel fundamental a nossa vigilância.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Diários

"Roteiros. Roteiros. Roteiros” (Oswald de Andrade).


”Roteiros. Roteiros. Roteiros” (Oswald de Andrade).

Por sete anos escrevi diários. Tinha até uma marca “registrada” em cada caderno: “O diário esparso”. Devo ter tirado esse nome de alguma publicação literária lida. Como todo o resto da humanidade que se interessa por isso, a proposta era descrever a maioria dos momentos da vida, desde que os considerassem dignos de serem relatados para a posteridade. Peguei fases importantes nesse tempo, mas dá preguiça de resumir, pois soam tão ridículos hoje....

Nos últimos dois anos finais a produção do diário foi decrescendo, decrescendo, tornou-se esporádica e hoje desapareceu por completo. Este texto pode ser considerado o meu último no gênero diarístisco, se é que podemos classificar assim. Os cadernos foram ficando amarrotados, mal guardados que foram, enfrentaram mudanças de casa, mudanças climáticas e não resistiram à destruição: acabaram sendo destruídos pelo fogo.

Já não é simplesmente o ritmo de vida que levo o fator que me levou à perda do estímulo de escrever diários. Foi a consciência do escriba diante da folha de papel que mudou. Primeiro, pela questão da própria modernidade: o comportamento das pessoas foi sensivelmente transformado quando elas são colocadas diante de duas opções: o papel e caneta, de um lado; o computador, de outro. O armazenamento de informações na estante ou no quarto dos fundos perde cada vez mais espaço para o armazenamento no computador. Os processadores de texto estão cada vez melhores, há uma série de opções, tanto pagas quanto gratuitas (vide pacote Office, da Microsoft e o Open Office, por exemplo). Se o computador estiver conectado à Internet, pronto, mais um estímulo a pararmos de escrever muitas e muitas linhas e passarmos a digitar apenas o essencial para estabelecer uma comunicação rápida e, principalmente, instantânea com a outra pessoa do outro lado da “linha”. Com a computação em nuvem (cloud computing) mais uma facilidade alcançada: você não precisa mais armazenar seus dados - pelo menos o que você achar que não sejam comprometedores, no que se refira ao sigilo pessoal - no Desktop Pessoal ou Notebook. Deixe salvo em algum repositório da web, que pode ser até mesmo o espaço de armazenamento da sua conta de e-mail, para ficar na mais elementar forma de “computação em nuvem”, talvez a mais atuante até mesmo antes dessa onda cloud ser tão propalada. E mesmo se seu problema for o sigilo de dados, a criptografia pode ajudar a manter suas informações em segredo. Bem vindo à Web 2.0! Bem vindo também à Web 3.0, que também está sendo difundida!

Mas não posso culpar a internet pelo meu desapego aos diários escritos a mão. A naturalidade com que se processou essa ruptura deixou em mim a certeza de que outros gêneros literários farão mais sentido do ponto de vista social e ideológico e principalmente religioso. nem os diários eram mais importantes, como eu já não sou o mesmo e as coisas velhas ficarão para trás. Eis que tudo agora se fez novo.

Afinal de contas, tirando filólogos e historiadores quem mais se interessaria pela dissecação da vida manuscrita de outrem, ainda mais quando esse outrem é anônimo?