quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Bíblia Digital
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Diários
”Roteiros. Roteiros. Roteiros” (Oswald de Andrade).
Por sete anos escrevi diários. Tinha até uma marca “registrada” em cada caderno: “O diário esparso”. Devo ter tirado esse nome de alguma publicação literária lida. Como todo o resto da humanidade que se interessa por isso, a proposta era descrever a maioria dos momentos da vida, desde que os considerassem dignos de serem relatados para a posteridade. Peguei fases importantes nesse tempo, mas dá preguiça de resumir, pois soam tão ridículos hoje....
Nos últimos dois anos finais a produção do diário foi decrescendo, decrescendo, tornou-se esporádica e hoje desapareceu por completo. Este texto pode ser considerado o meu último no gênero diarístisco, se é que podemos classificar assim. Os cadernos foram ficando amarrotados, mal guardados que foram, enfrentaram mudanças de casa, mudanças climáticas e não resistiram à destruição: acabaram sendo destruídos pelo fogo.
Já não é simplesmente o ritmo de vida que levo o fator que me levou à perda do estímulo de escrever diários. Foi a consciência do escriba diante da folha de papel que mudou. Primeiro, pela questão da própria modernidade: o comportamento das pessoas foi sensivelmente transformado quando elas são colocadas diante de duas opções: o papel e caneta, de um lado; o computador, de outro. O armazenamento de informações na estante ou no quarto dos fundos perde cada vez mais espaço para o armazenamento no computador. Os processadores de texto estão cada vez melhores, há uma série de opções, tanto pagas quanto gratuitas (vide pacote Office, da Microsoft e o Open Office, por exemplo). Se o computador estiver conectado à Internet, pronto, mais um estímulo a pararmos de escrever muitas e muitas linhas e passarmos a digitar apenas o essencial para estabelecer uma comunicação rápida e, principalmente, instantânea com a outra pessoa do outro lado da “linha”. Com a computação em nuvem (cloud computing) mais uma facilidade alcançada: você não precisa mais armazenar seus dados - pelo menos o que você achar que não sejam comprometedores, no que se refira ao sigilo pessoal - no Desktop Pessoal ou Notebook. Deixe salvo em algum repositório da web, que pode ser até mesmo o espaço de armazenamento da sua conta de e-mail, para ficar na mais elementar forma de “computação em nuvem”, talvez a mais atuante até mesmo antes dessa onda cloud ser tão propalada. E mesmo se seu problema for o sigilo de dados, a criptografia pode ajudar a manter suas informações
Mas não posso culpar a internet pelo meu desapego aos diários escritos a mão. A naturalidade com que se processou essa ruptura deixou em mim a certeza de que outros gêneros literários farão mais sentido do ponto de vista social e ideológico e principalmente religioso. nem os diários eram mais importantes, como eu já não sou o mesmo e as coisas velhas ficarão para trás. Eis que tudo agora se fez novo.
Afinal de contas, tirando filólogos e historiadores quem mais se interessaria pela dissecação da vida manuscrita de outrem, ainda mais quando esse outrem é anônimo?